Indicações de método para a EdC (1992)
Notas de uma discussão no Conselho Nacional de Comunhão e LibertaçãoO trabalho sobre o texto de Escola de Comunidade é a modalidade mais concreta para manter um relacionamento sistemático com o carisma do Movimento.
Carisma é o dom do Espírito, que age em função da Igreja inteira, utilizando temperamento, tempo e espaço; utilizando o humano. Este é um dos conteúdos centrais do segundo tomo do terceiro volume; dar-se conta de que o Espírito usa o humano quer dizer dar-se conta do que é o catolicismo.
É a fidelidade ao carisma que gera presença e missão; é da fidelidade ao carimã que a experiência nasce e produz um desenvolvimento humano com capacidade de presença.
O “gênio” próprio do carisma do Movimento é metodológico, pedagógico. O Movimento surgiu como preocupação para que os jovens conhecessem Cristo, de tal modo que a sua presença se tornasse persuasiva para eles.
O método do Movimento está indicado na palavra “acontecimento”: revelar a presença de Cristo como acontecimento presente. É, de fato, em um acontecimento presente que Cristo se revela persuasivamente. A metodologia do Movimento está toda no substituir categorias repetidas ou um discurso reiterado por um acontecimento.
A moralidade nasce como tendência a investir a vida com o acontecimento que se encontrou e no qual se foi envolvido; tendência a pertencer e, portanto, a confrontar-se com o que o Movimento é.
A companhia se torna acontecimento, e portanto fonte de moralidade enquanto é imposta de modo tal que torne mais fácil a cada um a comparação de tudo o que vive com a proposta do Movimento.
Esta é a modalidade concreta para manter o relacionamento com o carisma: investir com um acontecimento e fazer penetrar neste acontecimento. O início deste acontecimento deveria ser a responsabilidade pessoal de quem dirige: que seja sério o seu relacionamento com o que diz aos outros. Isto acende a vida da companhia como acontecimento.
Se a Escola de Comunidade é reduzida a categorias de um “discurso”, não faz crescer o Movimento. Se é um trabalho, um ponto de comparação, torna-se fator fascinante de acontecimento.
O que se deve comunicar é o entusiasmo, a beleza de uma comparação. A comparação tem em si um componente existencialmente dramático, porque, se uma pessoa se confronta, deve corrigir-se. É exatamente isto o que arrasta consigo educativamente: somente quem segue merece ser seguido.
O que não se torna urgência de uma mudança é falso, mesmo que seja um discurso corretamente repetido.
A Escola de Comunidade deve ser feita dentro de uma séria comparação com o texto, não seguindo o fio das próprias preocupações.
Como a Escola de Comunidade se torna um ponto de comparação? Deve ser antes de mais nada lida, esclarecendo juntos o significado das palavras. Não uma interpretação, mas o seguimento literal. É uma renovação do método escolástico da Idade Média: leitura de tal modo textual que os comentários eram feitos nas margens. É preciso tornar-se discípulos do texto.
Em segundo lugar, é preciso dar espaço à exemplificação de uma comparação entre o que se vive e o que se leu. É preciso perguntar-se como aquilo que se leu e se procurou compreender literalmente julga a vida, julga o que aconteceu no dia anterior, o que está acontecendo no mundo e na própria situação.
Assim, a Escola de Comunidade se torna um gesto missionário; não deve ser um “seminário interno”. Como faz para ser válida para mim a Escola de Comunidade, se não a sinto cheia de promessa de esperança também para o homem que encontro pelo caminho ou para o colega de escola ou trabalho? Se é válida para mim, por que não deve ser válida para ele? Propondo-a ao outro, explode a unidade humana que existe entre mim e ti, a sede humana que nos torna comuns e a âncora de resposta que brilha para mim e para o outro.
Quem guia a Escola de Comunidade deveria ser a nascente deste momento como acontecimento. E se torna nascente se o que lê o toca, a ponto de – com discrição e sem sentimentalismos – ser oportuno que dissesse: “Percebo que esta determinada passagem julga antes de mais nada a mim”. Se, ao contrário, quem guia ataca as pessoas com os seus pensamentos, habitua cada um a seguir os próprios pensamentos.
A Escola de Comunidade deve ser sentida, vivida e sofrida por quem a guia, o qual, justamente por isto, deixa de ser um “catedrático” e se torna – como todos – alguém que busca. E para que esta busca não seja intelectual, deve ser um pedido. Esta busca e este pedido geram uma afeição real.
O trabalho de Escola de Comunidade, mais do que ser construído sobre gestos excepcionais, é trabalho de todos os dias.
Não é produtivo substituir o trabalho de Escola de Comunidade por qualquer outra coisa, imaginada por si; seria uma acusação inconsciente da própria incapacidade de fazer Escola de Comunidade.
(Texto publicado em Litterae Communionis, n. 32, jan./fev. 1993)