Peregrinos sobem a escadaria da Penha.

Em busca da amizade com Cristo

Para iniciar o Tempo da Quaresma, a comunidade de CL no Rio de Janeiro realizou a XV Peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora da Penha. «Se tudo aquilo que o homem faz não for colocado diante de Deus, é perda de tempo!»
Valéria Gomes Lopes

Quarta-feira de Cinzas, 2004. Dezesseis amigos de Comunhão e Libertação subiram o morro da Penha rezando o terço, para agradecer a Nossa Senhora por uma graça alcançada: o pedido, em novembro de 2003, de que um bebê que havia parado de crescer no ventre de sua mãe, quando esta estava no sétimo mês de gestação, pudesse se desenvolver com saúde. Em janeiro daquele ano, a menina nascera saudável.

O que se iniciou como um gesto de gratidão por uma vida, hoje é um gesto de toda a comunidade de Comunhão e Libertação, do qual participam um grupo de fiéis peregrinos aos quais se juntam outros tantos, vindos não só do Rio, mas, há 15 anos, uns vêm de São Paulo; outros, de Belo Horizonte; ou de Brasília; ou da Itália... Enfim, todos carregam sua gratidão pela Mãe de Deus e começam a travessia do deserto, junto com Seu Filho, por quarenta dias.

O que diferencia esse grupo dos que acompanharam Jesus naquele tempo? A certeza da ressurreição! A certeza de que não estão sozinhos. A certeza de que, seja do alto do Corcovado, seja do alto da Penha, Filho e Mãe velam por cada um deles.

Pode parecer romântico, mas, numa cidade de mais de seis milhões de habitantes, cerca de cento e cinquenta pessoas decidirem atravessá-la para agradecer a Nossa Senhora da Penha o dom da vida, doada pelo Filho de Deus aos seus irmãos homens, é o que há de mais razoável a ser feito. Não importa a indiferença de tantos. Não importa a violência que tem assustado aos moradores e aos visitantes da cidade. O que importa é saber que a vida de todo e qualquer homem é Dom, que cada pessoa vale porque existe e é amada por Deus e que o caminho da vida é íngreme, cheio de escadas, porém, para aqueles que aceitam entregar a sua vida por Cristo, mesmo caindo, tropeçando, lá, no fim do caminho, Ela nos espera com Seu filho no colo.



O grupo sobe a escadaria debaixo de sol rezando o terço e lendo os comentários de Dom Giussani aos mistérios dolorosos do Santo Rosário. Nas paradas, o coral canta algumas músicas. Com o terço na mão e os olhos fixados na cruz de Cristo, adentram a nave central e são acolhidos por aquela que, em 1635, livrou o capitão Baltazar de ser atacado por uma serpente.

Lá, os peregrinos participam da Santa Missa, com a imposição das cinzas: «Lembra-te de que é pó e ao pó voltarás», «Arrependei-vos e credes no Evangelho». Durante a homilia, padre Álvaro Inácio, que nos guiou junto com padre João Cláudio, nos lembrou a insistência da liturgia em nos recomendar o jejum, a esmola e a oração. Tudo vivido no «silêncio do coração», como Nossa Senhora viveu. Afirmou que «temos a tendência triste e forte de vivermos tudo isso não diante de Deus, mas de nós mesmos, e isso é para nós a condenação, porque pura vaidade. Se tudo aquilo que o homem faz for colocado diante dele mesmo, é uma perda de tempo. A Quaresma existe para que possamos tentar viver mais perto do Senhor, para que possamos ter os olhos limpos para chegarmos à Pascoa. Toda peregrinação é para aprendermos a seguir. Subimos à Penha para chegarmos a um lugar bonito: o lugar bonito é a amizade com Cristo». Desejou-nos que «esse amor por Ele possa, cada vez mais, definir as nossas vidas; que possamos entregar a Cristo as nossas tragédias, as nossas culpas, tudo aquilo que é nosso; que o que é nosso seja cada vez mais d’Ele». Assim seja!