Juarez e Nelma.

Marcados pela alegria

Amigos lembram a companhia de Juarez, da comunidade de CL no Rio de Janeiro. Na dor por sua partida afirmam a esperança de um destino bom para ele e para todos
Patricia Molina

Parece loucura falar em alegria no momento de tamanha dor, mas é pela alegria e pela simplicidade que nosso amigo Juarez será lembrado. Após 15 dias de tratamento da Covid-19, marcados pelo sofrimento, pelas orações, pela esperança e pela entrega, ele voltou para Casa do Pai no dia 17 de maio, aos 54 anos, cumprindo o percurso humano que caracteriza a vida de cada um de nós.
Juarez era o marido da Nelma, o pai do Lucas e o amigo que amava os seus amigos. Encontrar com ele era sempre uma festa. Era um homem feliz, do qual era bom ficar perto. Por essas idas e vindas da vida, ele estava afastado do Movimento, mas mantinha aceso o desejo de voltar. Em um momento complicado, o acidente automobilístico do seu filho Lucas, Juarez não se fez de rogado e procurou os amigos, pediu orações, pediu companhia, escancarou a porta da casa e do coração. Ele queria voltar.

Mas a pandemia nos impôs um distanciamento físico e a realidade tem mostrado toda a sua força e toda a nossa fragilidade. Nosso amigo Juarez pegou a Covid-19 e evoluiu para um quadro grave. Novamente o grito pela companhia dos amigos se fez presente e todos nós nos pusemos a rezar pelo Juarez junto com a Nelma. Temos um grupo que reza o terço diariamente desde o início da pandemia. A primeira vez em que a Nelma apareceu para rezar conosco foi muito impactante. Estávamos diante de uma mulher sofrida, cansada e assustada pela doença do marido. A pergunta do retiro da Fraternidade – Há esperança? – ganhava o rosto da Nelma. Além do grupo do terço, a comunidade do Rio de Janeiro e alguns amigos da Itália mantinham as orações diárias pela recuperação do Juarez e pelo conforto para a Nelma e o Lucas.

Os relatórios médicos e os áudios da Nelma era muito esperados e os pequenos sinais positivos eram recebidos com muita gratidão. Paralelamente a mudança da Nelma era notável. Algo que não se pode explicar porque a circunstância não havia mudado, o risco era grande, mas ela não estava mais desesperada, quebrada, ela estava inteira e cheia de esperança. Como disse um amigo da comunidade, citando o exemplo da Nelma, a pergunta "há esperança?" só pode ser feita e respondida de verdade por quem tem fome, por quem tem necessidade...

No último áudio da Nelma com notícias do Juarez ela dizia: “Eu estou em paz. Antes quando ligavam do hospital eu ficava ansiosa, agora não. Eu estou confiante. É a hora de Deus. Por que é que eu vou me desesperar? Eu tenho que confiar, confiar e confiar porque o Senhor é a razão da minha existência, Ele é o dono de tudo”. No dia seguinte, o hospital ligou novamente, Juarez voltou para o Senhor. Naquele mesmo dia, a Nelma entrou na sala virtual do terço. Ela estava sofrendo, mas não estava destruída e disse : “Eles não me deixaram ficar muito e nem tocá-lo, mas deixei com ele o terço que eu usava para rezar com vocês. Ele estava sereno”.

A morte do Juarez trouxe uma dor grande aos seus amigos. Nas mensagens que chegaram pelo WhatsApp nota-se o sofrimento e o espanto, mas ao mesmo tempo a esperança e a certeza da vitória de Cristo. O sorriso largo do Juarez permanece na nossa memória e agora é eterno. Ele queria voltar para os seus amigos e voltou. O pequeno grupinho que pode acompanhar o sepultamento foi um exemplo disso. Junto com eles, uma companhia inteira de amigos acompanhou o Juarez de volta para Cristo e isso foi uma grande graça.

A mensagem do Walter, responsável pela comunidade de CL no Rio de Janeiro resume bem o sentimento dos amigos do Juarez: “Eu o conheci em 1989 quando fiquei desempregado e ele, ao saber, falou com todo mundo na empresa que ele trabalhava e em 24hs conseguiu um novo emprego para mim. Juarez era uma pessoa incrivelmente alegre. E com seu sorriso cativava os amigos. Ficamos juntos por vários anos no primeiro grupo de Jovens Trabalhadores de CL no Rio de Janeiro. Depois, ao longo dos anos ele se afastou, mas sempre que nos encontrávamos era uma festa, sempre desejava retornar. Infelizmente veio a pandemia e isso dificultou este passo. Depois do acidente do filho ele me ligou várias vezes, desejoso que logo eu e os amigos de CL fôssemos conhecer sua nova casa, que tinha piscina e um espaço para fazer churrasco e alguns cantos. Infelizmente não foi possível, pois ele primeiro teve um problema cardíaco que foi controlado, mas veio depois a Covid. Fica uma grande dor por não ter a possibilidade de dar um abraço no meu amigo, porém fica também a certeza que Juarez tinha uma grande fé e certamente foi chamado a um destino bom ao lado do Senhor. Que ele interceda por nós e que o Senhor sustente na fé sua esposa Nelma e o filho Lucas, meu afilhado, de 26 anos. E que nos ajude a continuar esse caminho ao destino”.