Vista do Palácio do Planalto para a Praça dos três poderes, Brasília/DF. Foto: Rogério Melo (Flickr).

Superar as lógicas parciais, trabalhar pela construção do bem comum

Após os atos violentos ocorridos em Brasília no domingo 08 de janeiro, preparamos um panfleto com o desejo de oferecer a todos uma contribuição para sustentar a esperança na paz verdadeira que o Brasil e o mundo inteiro esperam

Como toda a sociedade brasileira, também nós estamos muito preocupados com o clima que nosso país está vivendo, depois dos atos violentos de depredação e de destruição do patrimônio público que ocorreram no último domingo, 08/01/23, em Brasília. Fazemos nossas as palavras do Papa Francisco repetidas várias vezes nestes últimos meses quando afirma para o mundo inteiro que a violência nunca é resposta para solucionar problemas, mas é sempre uma derrota para a humanidade (Cf. Eu vos peço em nome de Deus. Dez orações para um futuro de esperança, Papa Francisco, Piemme, 2022, ainda sem tradução para o português).

Em audiência com os membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, em 9 de janeiro deste ano, o Papa Francisco manifestou sua preocupação com o “enfraquecimento” da democracia, cujo sinal são crescentes polarizações políticas e sociais, que não ajudam a resolver os problemas urgentes dos cidadãos. “Penso nas várias crises políticas em diversos países do continente americano, com a sua carga de tensões e formas de violência que exacerbam os conflitos sociais”. O Papa citou três países da América Latina: Peru, Haiti e, por fim, o Brasil, concluindo que “sempre é preciso superar as lógicas parciais e trabalhar pela construção do bem comum”.

Há tempos respiramos um clima de tensão em que a impossibilidade de dialogar facilmente leva a considerar o outro como inimigo, um mal que precisa ser censurado e extirpado. Para recomeçar e buscar um caminho de saída, é preciso tomarmos consciência de que as coisas – assim como estão – não estão bem, não nos proporcionam aquela experiência de paz, de desejo do bem, que o coração de todo homem anseia.

O que esta situação exige de cada um de nós? Com certeza, não discursos nem reprovações, que, em última análise, seriam abstratos e moralistas, mas sim a retomada de uma presença na sociedade e de um efetivo trabalho educativo do nosso povo que possa alcançar todos os âmbitos em que vivemos.

E em que consiste esse trabalho educativo?
“É necessário voltar ao diálogo, à escuta recíproca e à negociação, promovendo responsabilidades compartilhadas e a cooperação na busca do bem comum, em nome daquela solidariedade que ‘deriva do fato de nos sabermos responsáveis pela fragilidade dos outros na procura dum destino comum’. Os impedimentos e os vetos recíprocos servem apenas para alimentar mais divisões”, disse ainda o Papa Francisco aos membros do Corpo Diplomático.

Como afirmamos no mês de novembro passado, em decorrência da guerra na Ucrânia, a guerra – a violência – só traz morte e destruição, elimina o reconhecimento fundamental de que o outro é um bem. Existe um caminho possível para a paz nas condições atuais? Sim, o diálogo. É um caminho que pode ser tomado já, ainda que por entre as tensões que inevitavelmente permanecem. Quando o fio do diálogo se rompe, quando os nossos interesses se tornam absolutos, abre-se o abismo sem fundo de um confronto que só deixa derrotas por terra e lança as sementes de uma futura e mais feroz violência.

O diálogo não é uma quimera, mas a única saída razoável. Em qualquer situação, mesmo a mais sombria ou a mais encarniçada. O Papa Francisco disse-o de forma corajosa: “É difícil, mas não devemos descartá-lo. Há que dar oportunidade de diálogo a todos. Sim, a todos! Pois existe sempre a possibilidade de que, no diálogo, as coisas possam mudar, oferecendo até outro ponto de vista, outro ponto de consideração” (15 de setembro 2022).
A posição do Papa é uma posição profética e realista ao mesmo tempo. Chama todos à responsabilidade, tanto aqueles que ocupam cargos de governo quanto aqueles que, como a maior parte de nós, enfrentam, dia após dia, as suas obrigações cotidianas. Para podermos estar com o Papa na profecia pela paz, desejamos amadurecer, educados pela Igreja e pelas suas testemunhas, a consciência de que a paz é um bem para todos os homens e a disponibilidade para sermos seus verdadeiros construtores através da nossa própria vida. Foi o que disse Dom Giussani depois do massacre de Nassíria, em 2003: “Se houvesse uma educação do povo, todos estariam melhor”.

Empenhemo-nos em promover gestos de oração e momentos públicos de debate que possam favorecer um aprofundamento e uma maior compreensão do valor contido no juízo do Papa Francisco sobre tudo o que está acontecendo. Esta é uma contribuição que oferecemos a todos para sustentar a esperança na paz verdadeira que o Brasil e o mundo inteiro esperam.

Janeiro de 2023
COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

Baixe o arquivo: