Em Teus olhos um lugar para habitar
De 24 a 26 de março, os Jovens Universitários e Trabalhadores de CL se reuniram no Rio de Janeiro para participar dos Exercícios Espirituais, acompanhados por Dom Paulo Romão e Alexandre Ferraro, responsável nacional do CLU/JTO tema que guiou os Exercícios Espirituais dos Jovens Universitários e Trabalhadores este ano foi: “Chamados à liberdade”. Logo no início da primeira palestra, sexta-feira à noite, Dom Paulo chamou a atenção para o mais importante: «Nós nos reunimos para voltar a viver intensamente, felizes e conhecermos cada vez mais Cristo, o Único que pode dar a verdadeira liberdade».
Para muitos, a liberdade pode ser um tema abstrato, ou um simples fazer o que quer, «minha vida, minhas regras». Mas aí vem a pergunta, quase revolucionária: o que é a liberdade? Talvez uma pessoa nunca tenha feito essa pergunta, mas ela nos foi colocada. O que é? Só se perguntando é possível chegar ao fundo da questão, pois somente descobrindo e fazendo uma experiência do que é a liberdade é que podemos ser verdadeiramente livres.
Antes de mais nada, todos nós temos um grande desejo de que nossa vida tenha sentido, seja útil; desejo de felicidade, de sermos amados, queridos… de realização. As soluções que o mundo nos oferece para essas perguntas talvez sejam simples demais, fáceis. Mas não bastam ao nosso coração. Queremos ser realmente felizes, verdadeiramente felizes.
Dom Paulo dizia: «Não desejamos momentos de liberdade, desejamos a liberdade!»
Nesses dias foi possível descobrir ou redescobrir que há um caminho de realização, de amor, de felicidade plena e que é possível para todos. Esse caminho é o encontro que fizemos com um Homem, com Cristo. Um Homem que tinha amigos, que reagia diante das injustiças, saía para encontrar os necessitados, era como nós, mas tinha algo a mais.
Cada um pode encontrar em Seus olhos um lugar para habitar, sendo verdadeiramente livres, felizes. O encontro com Ele é o início dessa liberdade, que sempre nos revela algo mais, sempre mais.
Nos dias em que estivemos juntos, pudemos nos dar conta, fazer experiência da correspondência que o Encontro gera em nós. Uma correspondência tão grande que quase não conseguimos nos segurar, queremos gritar ao mundo o que vimos, o Encontro que fizemos com aquele Homem, Jesus de Nazaré.
E é só o começo, como o Alexandre nos repetiu várias vezes: «O que vocês viram é só 1%». Mal podemos esperar pelos 99%, pois, como diz Dominguinhos em Abri a Porta, «o Bom da vida vai prosseguir, vai dar pra lá do céu azul…», é para o Eterno, para o Infinito.
A seguir, alguns testemunhos que chegaram de jovens de diversas cidades que chegaram ao Rio de Janeiro para participar dos três dias de Exercícios Espirituais, realizados no bairro Pedra de Guaratiba, na região Oeste.
Esta foi a primeira vez que participei dos Exercícios Espirituais, e desde antes da viagem algo grandioso já me aconteceu: eu e meu irmão recebemos ajuda da comunidade de Belo Horizonte para conseguir suprir as despesas da viagem, algo que evidentemente me deixou felicíssimo.
Comentando este fato em uma Escola de Comunidade, ainda em Brasília, me surgiu a indagação: «Por que eu? O que tem em mim, ou o que eu sou, que me faz ser tão especial para esses amigos que mostram, quase de maneira óbvia, que me desejam tão bem?» E foi com esta pergunta em meu coração que fui para os Exercícios.
As palestras, os encontros, as músicas, os amigos e as conversas, ou seja, TUDO o que estava sendo apresentado e contemplado por mim naqueles pequenos e intensos dias, esculpiam e lapidavam uma resposta em meu coração. E esta resposta veio de maneira nítida aos meus olhos após um momento de conversa com um pequeno grupo de amigos, e a resposta era: meu lugar é aquele que me traz verdadeira liberdade, ou seja, é o lugar em que para mim se faz viva a companhia e o rosto de Cristo.
Uma frase que eu disse na assembleia e que genuinamente representa isto que estou descrevendo é: «O meu nome é Virgílio!», o que em outras palavras significa que inclusive o meu nome, que é o mesmo do Pe. Virgílio Resi, um padre que difundiu o Movimento no Brasil e foi grande amigo dos meus pais, faz memória dessa companhia, a qual me enche tanto o olhar. Obrigado.
Virgílio Barreto, Brasília (DF)
Falar sobre os Exercícios logo após a Semana Santa me coloca diante das mais belas experiências da minha vida. Eu não acredito em coincidência, acredito que em tudo Cristo tem um propósito, basta que eu confie e siga.
Este fim de semana não foi somente uma viagem, não foi apenas conhecer parte do Rio de Janeiro nem somente conhecer o mar. Desde dezembro de 2022 me sentia provocada em fazer algo para participar, o desejo da experiência era gigante e após acampamento se tornou maior.
Foi a minha primeira participação nos Exercícios, e estar lá ajudou a olhar mais a minha vida; me ajuda, na verdade, a compreender o porquê de eu ter inúmeras perguntas dentro de mim e o desejo insaciável do meu coração de viver sempre nessa companhia. Fui cheia de perguntas, com o coração angustiado por situações vividas durante a semana. Quando cheguei pela manhã para pegar o ônibus, vi meus amigos e, ao chegar ao Rio, reencontrei mais deles, meu coração se alegrava de uma forma diferente, Cristo foi maravilhoso comigo quando os colocou na minha vida. Inúmeros momentos desses dias falaram comigo, e cada um me provocava de maneira diferente. Tenho a ousadia em dizer que o café da manhã com o Alexandre foi o melhor momento. Não pela ocasião em si, mas porque via Cristo na maneira como ele olhava para nós, na maneira como ele falava. Depois, ouvi uma amiga nos contar sobre o desejo de não deixar a nossa bateria sair do 100%, ou como não deixá-la cair para os 15%. Como eu poderia, de fato, levar toda essa bagagem de aprendizado, todos os dias incríveis que eu vivi para o meu cotidiano? Mais uma vez a provocação. Tudo o que foi dito foram os tijolos da minha construção.
Voltei correspondida pelas perguntas que tinha levado. Meu coração voltou calmo e, ainda que houvesse um vestígio de medo, já estava preparada e com o coração cheio de certeza do caminho que estou construindo, que ainda não é 1%. Conhecer Cristo, através de vocês, é viver na certeza da nossa companhia, o caminho não é somente meu, meus amigos me ajudam a construí-lo.
Algum tempo depois dos Exercícios, digo que não foram apenas dias legais que acabaram lá quando viemos embora. Porque em grandes e pequenos detalhes eu aprendi a trazê-lo para a minha vida, para o meu cotidiano.
O que eu faço agora é agradecer a Cristo, aos meus amigos pela oportunidade de viver isso com eles. Não deixo de me sentir provocada, ou cheia de perguntas, pois elas são meu oxigênio.
Eliza Lana, Belo Horizonte (MG)
A experiência dos Exercícios Espirituais foi, no mínimo, intensa mas esclarecedora. Foi como ver uma pintura e depois ler um artigo que mostra a sua inspiração para a criação da obra. Foi como ler um artigo que mostrava a minha própria criação.
De todos os tópicos falados e discutidos, fico feliz em perceber que o meu desejo de ser amado, que parece nunca estar satisfeito, não é, de fato, um desejo egoísta da minha parte, mas algo que nasce inerente em todos nós, pois todos querem ser amados, querem ser aceitos, querem ser felizes e ter seus desejos preenchidos e, assim, ser livres.
Entender, nos Exercícios, sobre a liberdade, a minha liberdade através do Outro, através de um Cristo que se mostrou há tanto tempo e que se mostra ainda nos meus relacionamentos cotidianos, me deu um novo ar para respirar.
Passando por tantas dificuldades na faculdade, me sentindo burro e pequeno, preso à minha ignorância e preguiça… imagine minha felicidade em ver que Giussani, o homem que fundou nosso Movimento, se sentia assim também, pequeno. Ver que Giussani entendeu como engrandecer seu estudo, entregando seu esforço a Ele, entregando seu trabalho a Cristo, transformando o ordinário em algo extraordinário, me abriu os olhos.
Quando eu me sentar para estudar minhas matérias penosas, cansativas, pelas quais meu sentimento reclama e das quais minha razão tem dificuldade em encontrar sentido, posso entregar meu coração e esforço a Cristo, transformando essa “prisão” de estudar em um momento de grandeza, com uma companhia que preenche meu desejo infinito de ser amado, de ser livre.
Sei que ainda vou vacilar incontáveis vezes, mas eu ainda não vivi nem 1% de tudo o que posso experimentar ao lado dessa verdadeira experiência que foge das concepções padrões e somente pode ser compreendida quando avaliada com uma inteligência ligada a uma simplicidade de entender o que corresponde ao coração.
José Ignacio, Belo Horizonte (MG)
Inicialmente, pensar sobre a verdadeira Liberdade me pareceu um tanto quanto teórico. Talvez porque estivesse buscando na memória grandes decisões ou momentos em que tenha reafirmado para mim e para outros que eu era livre.
Somado a essa questão, pensava no motivo de ajudar e até mesmo participar dos Exercícios Espirituais, considerando que – em minha visão limitante – não entendia como deveria ser preparado o gesto e já acumulava muitos afazeres.
E foi justamente decidindo sobre participar e, depois, naqueles dias de Exercícios que fui começando a entender, concretamente, o constante chamado à Liberdade em minha vida. Porque mesmo com meu temperamento difícil, metódico e o frequente hábito de isolamento, todas as vezes que decidi estar nessa companhia tive a vida alargada. Eu, que não consegui responder à provocação feita, nem fazia ideia de como ajudar, fui atraída a sair da autopreservação pelo desejo de que pelo menos meus amigos tivessem a mesma experiência que tive. E ao ouvir cada um, ao conviver com pessoas de realidades diferentes da minha, percebi que tudo falava do meu desejo de liberdade – desde aquilo que vivi até as frustrações das minhas medidas.
Viver o gesto dos Exercícios não extinguiu nenhuma das minhas “grandes questões”, nem os diversos afazeres, mas deu real sentido. Porque percebi que vivo verdadeiramente, que sou eu, atendendo um Outro, que insiste em me chamar dentro do meu ativismo cotidiano.
Poderia resumir em: faria tudo de novo mesmo cansada.
Levei bastantes tapas no período de preparação e nos dias dos Exercícios, para entender que eu realmente preciso de pessoas para viver de verdade e só olhando verdadeiramente para cada um, entendendo que tem um destino, é que é possível dar sentido às coisas que me proponho a fazer. Realmente não faço por obrigação. Mas, sem essa consciência, parece que é andar em círculos.
Andressa Oliveira, Rio de Janeiro (RJ)