Olhar além da nossa medida
A recreação com as crianças, o lanche, a partilha. Há mais de 20 anos a fidelidade ao gesto de caritativa da comunidade de Macapá e Santana. Da Passos de jan/fevA experiência da caritativa é uma das dimensões do nosso carisma com a qual somos ajudados a viver e aprofundar a relação com Cristo. Desta forma somos desafiados a estar diante do outro sendo nós mesmos e a responder à necessidade que temos de comunicar a Beleza que encontramos. Seguindo essa indicação, desde o ano 2000 começamos essa ação na Paróquia Jesus Bom Samaritano, no bairro Zerão, em Macapá, quando o pe. Ignazio Lastrico, missionário do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras) trabalhava ali. E a partir de 2008 atuamos no Centro João Paulo II, no mesmo bairro. Há também uma ação na comunidade Nossa Senhora dos Navegantes, em Santana.
Em mais de 20 anos mantivemos sempre a proposta de encontrar uma vez por mês as crianças e adolescentes num gesto simples, em que propomos um momento de brincadeiras, com jogos recreativos, música, futebol, bandeirinha, e de vez em quando um filme. Mas que exige de cada um o esforço pessoal para aderir com liberdade a fim de crescermos na afeição ao próprio Cristo. É um momento esperado por todos, e no dia da caritativa as crianças convidam os amigos, vizinhos e irmãos para participar. Com a pandemia tivemos que parar as visitas e retomamos o gesto neste ano, quando foi permitido o retorno das atividades presenciais. Em média participam dez pessoas do Movimento e cerca de cinquenta crianças e adolescentes moradores do bairro. O lanche é preparado por nós mesmos e cada um contribui com algo como bolos, biscoitos, sanduíches, sucos e refrigerantes.
Se para as crianças e adolescentes a caritativa é uma possibilidade de lazer, de encontro, de alegria, para nós é a possibilidade de verificar sempre o caminho que fazemos, de estar diante de Cristo por meio do encontro com eles, de dispor de um tempo para o outro, de olhar além da nossa medida. O Papa Francisco nos disse que «há muitos homens e muitas mulheres que ainda não fizeram aquele encontro com o Senhor que transformou e tornou bela a vossa vida!» (Audiência com o Papa Francisco, 15 de outubro de 2022), então, a caritativa nos impele a isso, a desejar que também aquelas crianças possam experimentar esta Beleza.
O que sempre nos comove é que no final, antes do lanche, pedimos a eles que digam se gostaram de estar ali e todos respondem com um sim barulhento. Depois encerramos com uma oração em que cada um pode colocar a intenção; às vezes demora, dependendo do número de crianças e adolescentes presentes, mas ninguém deixa de colocar a sua intenção e há pedidos comoventes que nascem sempre da realidade que eles vivem e que para a maioria é bem sofrida, se considerarmos as condições econômicas das crianças. E assim voltamos para casa certos de que ali Cristo se fez presente, desejando que toda a vida seja assim, repleta da presença d’Ele.
Andreia, que há anos participa do gesto, afirma: «Ainda hoje, sempre me pergunto o porquê de fazer esse gesto. O que isso traz a vida? A resposta para mim não se finda em apenas uma, pois mesmo sendo o mesmo gesto tem sempre algo diferente, eu mesma sempre tenho uma atitude diferente, uma das respostas que tenho é que o mais necessitado sou eu; é um gesto educativo, é sempre uma novidade. E, como nos educou Dom Giussani: "A seriedade com Escola de Comunidade é fundamental para entender a caritativa". É um gesto de testemunho, beleza e verdade, sou grata por esse abraço».
Para Socorro, de Santana: «Tenho uma alegria imensa com a experiência da caritativa, pois estar com as crianças é tão gratificante que nem vejo o tempo passar; amo viver esse momento, pois é um gesto que faz meu coração arder».