A basílica de Nossa Senhora Aparecida no dia da peregrinação

Aparecida. Um caminho que educa o coração

De várias cidades rumo a Aparecida, 230 peregrinos caminham à noite, entre orações e cantos, confiantes na proteção de Maria. Histórias de fé, amizade e pertencer num caminho que educa o coração
Redação

Na noite de 6 para 7 de setembro, um grupo de 230 pessoas participou da peregrinação a pé de Pedrinhas até Aparecida do Norte, por cerca de 20km. Vindos de Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis e Jundiaí, o grupo de Comunhão e Libertação atravessou a noite com orações e cantos rumo ao Santuário Nacional. Momento de pedir e agradecer, confiantes na proteção de Maria, nossa mãe.

Glorinha, de Rio Preto, escreveu: «A Peregrinação foi incrível! Como diz Dom Paccosi na Introdução dos Exercícios da Fraternidade deste ano: “Somos todos necessitados de conversão e transformação”. Explico: pela primeira vez em anos precisei ir no carro de apoio na maior parte do caminho, fiquei chateada pois tinha uma amiga comigo indo pela primeira vez, não queria deixá-la sozinha pelo caminho, mas foi necessário. Isso tirou de mim toda a pretensão de “protegê-la”, isto é, de ficar com ela o tempo todo para que não se sentisse sozinha. Também tirou de mim toda a pretensão de só me ver pertencente se estivesse ali no meio do povo caminhando. Dentro do carro, me vi pertencente a um Mistério que me educa e me diz que Ele está presente o tempo todo, seja ali naquela situação do carro, seja em caminho com os outros, seja eu estando junto dela, seja ela caminhando sozinha. No final ela ficou tão feliz com a experiência da Peregrinação que me pediu para no ano que vem ser convidada novamente».

Para Hosana, de Belo Horizonte, a viagem começou como pedido: «A peregrinação significou muito para mim. Tenho dificuldade em lidar quando as coisas não saem como planejei. Um dos meus alunos desistiu de última hora, uma amiga ficou presa no congestionamento e também não conseguiu ir. Quando entrei no ônibus e percebi que metade dos passageiros eram Colegiais, pensei: “O que fui inventar?” Naquele momento, comecei a oferecer o meu limite físico, o cansaço e até o meu temperamento. A caminhada foi difícil, a cada passo o peso aumentava. Ainda havia a preocupação com Chico, meu filho, que poderia passar mal pelo esforço físico. Rezei a Nossa Senhora pedindo que o sustentasse e, se fosse da vontade de Deus, que conseguíssemos concluir todo o trajeto. O esforço parecia demasiado para mim, mas recordava Cristo carregando a sua Cruz. E então fui tomada por uma paz que abraçava tudo, sem desprezar nada. Diante da imagem de Nossa Senhora, não contive as lágrimas, apenas agradeci. Ao final, compreendi que não foi o meu esforço o que me levou até lá. Naquele momento, como em tantas outras ocasiões, Ele me sustentou através dos rostos concretos da companhia do Movimento».

A basílica à noite no dia da peregrinação

A peregrinação é promovida por CL, mas aberta a todos os amigos. Carolina foi uma convidada e veio como o grupo de Belo Horizonte. Ela afirma: «A cada proposta e convite que o Movimento me faz, retorno às perguntas: “O que me faz estar aqui? O que me faz permanecer?” Digo isso porque faço parte há 3 anos e, mesmo pertencendo a um segmento de fé diferente, enquanto cristã protestante, sigo atraída por este caminho, cada vez mais confiante de que ele permite tudo, até os dilemas que me acompanham. Os convites sempre me mobilizam e me levam a uma adesão, algumas mais radicais, como topar participar da Peregrinação a Aparecida. Disse um “sim” receoso “para mostrar o meu olhar” e por seguir provocada, como os discípulos diante de Cristo que responderam: “Para onde [mais] iremos?” A minha experiência com a Peregrinação foi carregada pelo gosto da companhia dos amigos que me permitem ver o rosto de Cristo. A caminhada foi muito cansativa, mas sempre carregada de cuidado e apoio, seja num bastão ofertado quase ao final do caminho, seja no gelo entregue para aplacar o mal-estar do corpo extenuado. Sigo em caminho, com minhas questões e perguntas, mas, também, acompanhada e amada como sou, o que renova em mim o “sim” do começo, comovido pelo amor de Dom Giussani a Cristo».

O convite também chegou a Márcia, através de sua cunhada Virginia, de Belo Horizonte: «Quando vi no grupo da família que havia seis vagas para a peregrinação a Aparecida, surgiu em mim o desejo imediato de fazer parte do grupo que eu sabia ser de pessoas compromissadas com a oração e com os propósitos divinos. Era a oportunidade que eu precisava, pois meu coração desejava uma empreitada em que a penitência me colocasse em oração e reflexão para agradecer as diversas bênçãos que eu e minha família recebemos, e também para orar por bênçãos para todos os que precisam. Eu me preparei, fui com a mochila cheia, muito ânimo, mas também com o cansaço de uma semana anterior de muito trabalho e uma noite sem dormir. Queria estar sensível a tudo, desde os preparativos, desde o encontro com todos no ônibus, queria me sentir mais próxima de Deus, da experiência de Cristo em suas longas caminhadas para pregar a palavra, mais próxima de nossa Mãe Maria com sua disponibilidade de viver em constante penitência, que para ela era o seu único propósito, o significado de toda a sua vida: amar a Deus e a seu filho Jesus Cristo. Fiquei encantada com a quantidade de pessoas na largada, com a amizade entre elas, os abraços fraternos, o coral, a leitura do texto inicial… Durante a caminhada eu ouvia os passos na estrada de terra, pessoas diversas, de diferentes idades, muitos jovens, cada um com suas reflexões, seus pensamentos, seus terços, em oração. Ali éramos companheiros de caminhada: jovens, pais e mães com seus filhos, pessoas maduras sem se importar com o peso da idade. Senti a dimensão da distância, bem puxado, unha encravada começando a latejar nos últimos cinco quilômetros… Paramos em uma igreja linda, tirei o tênis para descansar a minha unha que pedia para eu ir de carro nos restantes três quilômetros. Pedi a Nossa Senhora Aparecida que curasse minha unha, para eu terminar a peregrinação a pé. Troquei de meia, descansei o pé, e tranquilamente coloquei o tênis com o dedo já sem nenhuma dor. Cansaço, frio, calor, sem poder me sentar durante a missa, só no chão, tudo isso foi refresco para minha alma! Voltei leve, satisfeita, feliz, emocionada com a beleza desse grupo de pessoas cheias de fé. Obrigada por terem me ofertado a oportunidade de fazer parte dessa linda caminhada!»

Os peregrinos reunidos após visitarem a imagem

E Gracielle, outra peregrina de Belo Horizonte, quis compartilhar um pouco da sua experiência de fé durante esse momento: «Há pouco tempo comecei a participar do Projeto Janela, onde tive uma experiência extraordinária com a acolhida e amor ao próximo e assim comecei a ver sentido na fé (amar ao próximo como a ti mesmo). Trabalho na creche Jardim Felicidade como auxiliar de cozinha. O marido da cozinheira Silvania comentou comigo sobre a peregrinação que aconteceria em setembro, eu me interessei, mas como sou enrolada deixei passar, e já não tinha mais vagas. Mas no dia 30 de agosto fui ao encontro do Janela, e perguntei novamente se tinha vaga no ônibus. Giovanna disse que não. Passamos o dia inteiro juntas e, no último momento antes de ir embora, tocamos no assunto de novo, e eu disse: “Quem sabe a próxima?” No dia seguinte de manhã ela me enviou mensagem dizendo que tinha acontecido um milagre, que uma pessoa tinha desistido, que a vaga era minha. Eu fiquei tão emocionada, milagres existem! Fiz a inscrição e tudo deu certo. Deixei tudo para trás e fui viver uma experiência que desejei muito. Foram 20 km de muita fé em cada parada em que rezamos os mistérios, sentia a presença de Deus, eu não estava sozinha, me emocionei muito, sendo ajudada pelas pessoas que nos davam muita força, porque o cansaço era muito, mas Deus e todos estavam cuidando uns dos outros. Enfim, quando chegamos a Potim, na parada para o café, entrei na igreja emocionada, agradeci de joelhos pela caminhada, que foi uma experiência maravilhosa na qual em todo momento sentia a presença de Deus, no silêncio, na brisa do ar puro da natureza. Não tinha dúvidas de que Deus estava lá em todos os momentos. Quando chegamos à Basílica, casa da Mãe, foi mais uma emoção de dever cumprido, e assim pude entender que nós somos movidos pela fé, esperança, amor ao próximo. Eu tenho um Deus que não se cansa de me levantar. Em Hebreus 11,13, Paulo diz que somos peregrinos e estrangeiros, lembrando que nosso tesouro mais precioso não está na terra».