André Batista e sua esposa Arlete.

A certeza de uma vida linda e bela como sempre foi

No dia 20 de setembro faleceu André Batista, nosso amigo da comunidade de CL em Salvador. Nesta carta alguns depoimentos, com gratidão por sua vida

A doença de André foi uma via dolorosa e cheia das graças de Deus. Toda a comunidade, família e amigos, se uniram numa oração contínua pela sua cura. Durante todo o tempo entregamos também sua esposa Arleide à proteção de nossa Mãe Santíssima, e vimos nascer uma força e uma certeza impossíveis aos olhos humanos. Era claríssimo que havia algo de Outro em tudo. Afinal, como seria possível estar com a cabeça erguida diante de tamanho sofrimento? Parecia injusto e incompreensível. Desde o diagnóstico, o difícil tratamento, o cuidado com a família, a determinação de André em obedecer a tudo, em lutar pela vida com todas as suas forças; a sua coragem de subir ao altar no final da missa, um dia antes de se internar para o transplante, para nos testemunhar a sua gratidão pelas orações e pela amizade de todos, reafirmando o seu amor Cristo, e o amor entre ele e Arleide, amor que transbordou para os filhos e para cada um de nós. Eu, que estava perto de Arleide durante a última semana, vi uma mulher se entregando e sendo moldada pelo rosto de Cristo até se tornar ela mesma esse Rosto para todos nós. Eu pude presenciar como Cristo age na história, transfigurando, em sua Infinita Misericórdia, essa realidade tão dura e cruel. Vi como, quando uma pessoa se entrega sem reservas a Cristo, arrasta consigo uma multidão. Esse espetáculo de dor e beleza pôde ser vislumbrado nos boletins diários que Arleide enviava, para participar aos amigos o que estava acontecendo. Comunicava com clareza os fatos, pedia a intensificação das orações e entregava à Misericórdia do Pai: “Que Ele conduza tudo conforme sua vontade”. Com o agravamento de André, vinha à mente uma inevitável pergunta: Tanta oração para nada? Deus não atende às nossas preces? Mais uma vez o consolo veio por meio de quem mais sofria. No dia do falecimento de André, Arleide nos consolou, mostrando-nos onde devemos depositar a nossa confiança: “Caríssimos, agradeço as orações e o acompanhamento de todos nessa trajetória de André, que não foram em vão e foram muito importantes para nós. Nesta madrugada André fisicamente nos deixou. Que Deus o acolha na sua infinita misericórdia e nos dê forças para seguir em frente”. No velório estávamos todos comovidos. Meu bom Jesus, como é grande o Teu Amor por nós! Como não reavivar a certeza desse Amor ao ver que, diante de um corpo sem vida, possam ser gerados tantos frutos para a eternidade? É a Vitória de Cristo sobre a morte!

Muitos amigos se manifestaram por escrito. Claudia Claudino: “Dom Petrini, nesta tarde, nos falou como só um pai pode falar a um filho: com autoridade e afeto inquestionáveis. Ele nos trouxe segurança quando nos faltava o chão! Suas palavras hoje nos livraram da tentação da desesperança e da dúvida, nos favoreceu para percebermos a Presença de Deus ao nosso lado. Toda a celebração foi comovente demais porque nos indicava que o grande milagre aconteceu: não conforme pedimos, mas insondavelmente maior do que pedimos”. Milena: “O sepultamento de André me encheu de silêncio, um silêncio cheio da Grande Presença. Hoje a vida de André se cumpriu suscitando em mim o desejo que todo o meu viver seja para realizar a obra do Senhor. Peço que nunca me prive de realizar aquilo que Ele quer de mim, para que também a minha vida se cumpra. Ouvir aquelas palavras na missa foi como me sentir abraçada por Jesus. Chorei de tristeza, mas muito mais de comoção. Jesus é sempre mais que minha medida e sempre se oferece como a nossa grande companhia, sobretudo nos momentos mais extremos”. Silvana: “Para mim foi um espetáculo ver Arleide e seus filhos celebrando a festa do Céu recebendo seu esposo e o pai. O que vimos ontem foi uma antevisão do Paraíso, aquele lugar onde nossos desejos serão todos atendidos. Ontem eu vi com os meus olhos que o que irá transformar o mundo é o encontro com Cristo”. O que fica, o que toca no coração de cada um e de todos é que a vida de André chegou ao termo, se cumpriu segundo um desígnio maior. “No momento certo entenderemos o porquê das coisas. Até lá é preciso continuar utilizando os mesmos ingredientes que construíram a fortaleza do bem viver, a mesma fortaleza que Arleide e André construíram juntos” (Alba). A fortaleza construída sobre a Rocha que é Cristo. Por isso, pela beleza do encontro feito, ainda muito jovem, para medir a grandiosidade do Amor que o chamou, André tinha uma marca registrada: a alegria! “Seu sorriso, sua alegria e sua fé estão preservados em meu coração, juntamente com a memória de tudo o que compartilhamos” (Marinella); “Eu me lembro do jeito acolhedor e brincalhão que me recebeu no nosso primeiro encontro. Achei estranho que alguém pudesse receber uma desconhecida com tal familiaridade. Só depois entendi que era o jeito com o qual Cristo nos acolhe” (Núbia).

No dia da missa de sétimo dia, fomos brindados com um texto de Santo Agostinho, que tanto se assemelha ao temperamento de André: “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. (...) Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Que meu nome seja pronunciando como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. (...) O fio não foi cortado. Porque eu estaria fora dos seus pensamentos, agora que estou apenas fora das suas vistas?...Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi”. Tanto ainda poderia ser dito. A página da nossa história, da comunidade de CL em Salvador, continuará a ser escrita com a marca indelével da nossa amizade em Cristo. Obrigada, André; obrigada, minha irmã querida... obrigada, meu Jesus, por mais uma vez se manifestar aos nossos olhos!

Arlete, Salvador (BA)