Pe. Ignazio (à direita) paramentado para visitar pacientes

Amapá. Quando a fé marca tudo ao redor

Ao visitar os pacientes de uma UTI de Covid, Pe. Ignazio redescobre, a partir da fé vivida em companhia, a grandeza de duas palavras muito familiares: razão e política

Gostaria de compartilhar humildemente com vocês duas experiências que neste tempo de pandemia me ajudaram a entender duas palavras chaves que o Movimento está sublinhando nestes meses: razão e política.

No mês de abril, durante a Jornada dos Colegiais e durante uma assembleia com a comunidade de São Paulo, Bracco evidenciou como na vida, e por isso nestes dias dramáticos provocados pelo Coronavirus, nós precisamos de algo que possa abrir a nossa razão, que mexa com ela, como se fosse um soco, para nos despertar, para não termos medo.

Eu desejo ser sincero. No início, não entendi, mas esta afirmação ficou dentro de mim, até que no dia 6 de maio, durante a Escola de Comunidade com padre Carrón, interveio um padre espanhol, padre Nacho, que começou a contar sua experiência de ter parado de ser biblista, de ensinar por um tempo para se dedicar a ser capelão do hospital, para visitar os doentes de Covid. E, naqueles dias, a razão e a afeição dele foram desafiadas por um problema de conhecimento: o que é a dor, o que é a morte? O que é a vida? Esta intervenção foi como uma luz que me fez perguntar: e eu, faço o quê?

Uma amiga trazendo o lanche para o Pronto Socorro

Assim, surgiu uma faísca que despertou o desejo de empreender este itinerário de conhecimento que se tornou a origem de uma relação rica de humanidade com o hospital da cidade de onde eu moro, Santana (AP).

Escrevendo agora esta carta, surgiu em mim o desejo de compartilhar um último fato interessante que me aconteceu quarta-feira passada, durante a minha visita semanal ao Pronto Socorro, que pode ser um sinal eficaz de tudo aquilo que estou dizendo: de repente, encontrei-me diante de um paciente muito grave que estava esperando para entrar na UTI, e, quando comecei a rezar por ele, percebi que o enfermeiro que estava cuidando dele se aproximou ao meu lado, sem que eu o convidasse, e começou a rezar comigo por ele.

Naquele instante, percebi concretamente a compaixão de Jesus por aquele doente e, através daquele profissional de saúde, percebi como o trabalho, neste caso o ser enfermeiro, assume toda a sua dignidade quando chega até o coração daquele que nós devemos atender.

Agora passo à segunda palavra: política.

Desde o início desta presença no hospital (15 de maio), começou um gesto muito bonito: algumas famílias, no total trinta e oito, se ofereçam para preparar, gratuitamente e com muito carinho, o lanche – de manhã e à tarde, de segunda até sexta-feira – para os profissionais do Pronto Socorro que estavam atendendo principalmente doentes da Covid.

Um gesto simples mas transformador, que contagiou muitas pessoas, a tal ponto que um dia a psicóloga do hospital quis me dizer que este gesto havia se tornado a origem de uma melhora na relação entre aqueles que estavam trabalhando no Pronto Socorro. E, por consequência, de uma melhora ao tratarem os pacientes.

Naquele instante, me caiu a ficha, que me fez entender quando, no mês passado, Bracco, durante um encontro, disse que, quando se vive a fé autenticamente, automaticamente se vive a política, porque se marca o contexto no qual se vive. Também neste caso, inicialmente não percebia a ligação estreita entre as duas palavras, a fé e a política, precisei deste encontro com a psicóloga para entender.

Para terminar, aproveito para agradecer a Revista Passos, porque através dos vários testemunhos que compartilha conosco me ajuda a entender “passo após passo”, dentro das minhas limitações, esta grande parábola de Jesus que é a nossa vida.
Um grande abraço em comunhão.

Pe. Ignazio Lastrico, Santana (AP)