Priscila e Rogério

Os sinais de Cristo, na amizade e na comida

Diante do desemprego e do desânimo do marido, Priscila passou a prestar mais atenção aos sinais que recebia da realidade, e encontrou uma nova forma de trabalhar e de levar amor às pessoas

Eu sempre fui muito obediente à minha fé, que encontrei ainda cedo, quando ia à missa sozinha com meus 9 anos. Hoje tenho 40 anos, sou casada há 20 e mãe de dois filhos, um menino de 19 anos e uma menina de 21 anos. Há cerca de dois anos participo da Escola de Comunidade, agora on-line, e percebo que é a fé que me sustenta e é através dela que Cristo sempre vem ao meu encontro.

No final do ano passado meu marido ficou desempregado. Sem conseguir nada, partiu para o trabalho informal e começou a dirigir para aplicativo, mas sempre que eu olhava em seus olhos via um desânimo, que doía muito em meu coração. Até que a pandemia chegou, então pedi que ele ficasse em casa, afinal eu trabalho em hospital e estou sob o risco de a qualquer momento adquirir a doença. Foi difícil ele aceitar, mas consegui mostrar a ele que não precisamos de muito para sermos felizes, e assim foi feito: ele ficou em casa e eu saía todos os dias para trabalhar. O tempo foi passando, e ele que era muito ativo começou a desmoronar, ficou sem iniciativa, acordava sem vontade para nada, as insônias eram constantes. Aquilo também foi me consumindo, e cheguei a pensar que a vida tinha acabado. A única coisa que não havia acabado era a nossa alegria dentro da cozinha.

Pratos do empreendimento Delícias da Pri Reis

Passei a postar nas redes sociais tudo o que nós fazíamos, e tínhamos um grande retorno, muitos elogios. Foi quando comecei a prestar mais atenção aos sinais de Deus. A paróquia que eu frequento abriu inscrição para ser voluntário na acolhida dos fiéis, e assim que vi o pedido me inscrevi. Para minha surpresa, um casal muito querido, Rosângela e Flávio, ficou junto comigo, e ao terminar a missa eu sempre ia até ela para conversar, contava meus desejos, dizia o que estava fazendo na cozinha, no artesanato. Sem saber o que estava se passando pela minha casa, Rosângela e Flávio naquele momento foram Cristo em minha vida, me levaram até em casa, falando para mim sobre minha qualidade e capacidade, e que eu precisava acreditar, que a minha vontade de montar algo deveria sair da vontade e tornar-se realidade. Eu falava sobre de meus medos, e a todo o tempo eles tiravam esse medo do meu pensamento, contando da experiência deles.

Cheguei em casa mexida, agitada, e ao mesmo tempo com o coração cheio de esperança, com uma enorme certeza da minha capacidade. Contei ao meu marido, que achou legal, mas como ele não estava bem não demonstrou nenhuma animação. Nesse dia, eu lembro que, ao dormir, além da minha tradicional prece, pedi ao Senhor que me mostrasse o caminho, que tudo aquilo que eu escutei na volta de casa não fosse para o lixo, pois as palavras deles eram exatamente os sinais que eu precisava ouvir. No meio da noite acordei, ainda com muita alegria ao me lembrar de cada palavra, fui até a sala e comecei a fazer o cardápio da Delícias da Pri Reis.

Alguns dias depois decidi ir até o padre Álvaro para me confessar, contei a ele sobre a minha vontade de montar um negócio de comida e sobre o medo que eu tinha. Nossa conversa serviu para me acalmar e para eu escutar mais os sinais de Cristo na minha vida. Voltei para casa com a certeza do empreendimento, mesmo em plena pandemia. Coloquei meu marido para decidir tudo comigo, e praticamente em uma semana lançamos a venda de quentinhas. Hoje meu marido voltou a ser aquela pessoa feliz, animada e alegre, não acordamos mais à noite, não pensamos mais no final da vida, e estamos vivendo intensamente, levando amor às pessoas através da comida e realizados por conseguir fazer algo que amamos. Agradeço a estes amigos por me mostrarem que temos que tentar.

Priscila, Rio de Janeiro