Thaís e Matheus com a mãe de Cida

É nos detalhes que Cristo age

A mãe de Cida tem Alzheimer, e após um incidente precisa passar por uma cirurgia. Decisões difíceis, gastos, falta de tempo... mas a confiança em Jesus e uma grata surpresa revelam uma escolha a fazer e a descoberta de que «minha mãe não é só minha»

Meu marido viajou no início de agosto. Na noite seguinte, quando fui dar leite para minha mãe, que tem 90 anos, a encontrei dormindo no box do banheiro. Ela tem Alzheimer e, às vezes, tinha mania de ir ao banheiro dormir, mas nunca no box. Então eu a chamei achando que estava simplesmente dormindo. Entretanto, quando tentei levantá-la, gritou de dor. Chamei meus filhos para me ajudar, e passamos a noite em claro, pois ela vomitou e ainda evacuou. Bom, na primeira vez ainda consegui limpar. Na segunda vez não tinha como fazê-lo sem levantá-la, pois meu braço não aguentava, já que eu tinha operado fazia quatro meses. A única chance era esperar a faxineira chegar. Ela trabalha às segundas e quintas-feiras. E se ela não viesse? E se acontecesse num dia que não era seu dia? E se meu filho Matheus não estivesse? Não é sempre que ele está.

É nos detalhes e na cronologia que reconheço como Cristo age. Quando a faxineira chegou, conseguimos limpar minha mãe e colocá-la no carro com ajuda de meu filho. Fomos para o hospital. Sempre quando acontece algo procuro compartilhar com meus irmãos, que estão em outras cidades e países, e também com o grupo de Escola de Comunidade. Desta vez, em vez de compartilhar com o grupo todo, o fiz com Alexandre Casimiro e Thaís.

Eu não sabia, mas acabamos indo a um hospital que não tinha ortopedia, mas lá fizeram todo o procedimento geral e depois a encaminharam para o outro hospital, de ortopedia. Só que eles tinham esquecido de dar o remédio do vômito. Eu fiquei em cima porque ela tinha que tomar. Nesses minutos que atrasaram, a Thaís chegou. Naquele momento eu precisava estar junto na ambulância, mas não sabia o que fazer, pois meu carro estava na rua e eu não podia largá-lo ali. Como a Thaís tinha deixado o carro na garagem do hospital, decidiu acompanhá-la. Depois que minha mãe entrou na cirurgia eu vim para casa e, quando cheguei, meu filho mais novo começa a chorar e me diz: «Mãe, cuide dela, não a deixe morrer». Ali estava o pedido. Porque quando ela entrou na cirurgia eu me perguntava se aquele era o momento dela, o que ia acontecer.

Enquanto isso, em casa havia chegado um quadro de Jesus Misericordioso que eu tinha encomendado, e Jesus havia dito à Irmã Faustina que quem rezasse para Ele nenhum pedido ficaria sem ser escutado. Aquele tinha sido o pedido de meu filho: que ela vivesse. A cirurgia foi bem, ela foi para a UTI, e daí para o quarto. Durante uma visita, na qual vieram Alexandre e Thaís, após um bom tempo de bate-papo, surge a conversa sobre os cuidados com minha mãe e então eu pergunto: «Então vou precisar de duas cuidadoras?» Fizemos as contas, contabilizamos as horas e, de repente, Thaís diz: «Por que ela não vem para o Lar? Todo mundo a conhece, gostam dela, nós temos estrutura para ela, enfermeira, fisioterapeuta, cuidadores, estamos com vaga». Eu não acreditava no que estava escutando. Eu lhe perguntei várias vezes se era verdade o que estava dizendo.

No dia seguinte pela manhã, enviei uma mensagem para Dona Vanda, presidente do Lar Três Irmãs, e depois de algum tempo ela diz: «Sim, é possível». Nesse momento me dei conta de que minha mãe não é só minha, ela é amada pela Thaís e por aqueles cuidadores do Lar, uma vez que minha mãe costuma passar algumas tardes lá, quando vamos fazer caritativa já há alguns anos. Minha mãe sofreu muito durante a vida por conta da família de meu pai, por conta da forte personalidade e do temperamento dele, e de problemas com os filhos. Vem experimentando nosso amor nestes sete anos que mora conosco, desde o início do Alzheimer, e agora experimenta o amor da Thaís e das outras pessoas do Lar que verdadeiramente gostam dela. É uma sensação estranha: minha mãe não é só minha.

A Thaís dormiu de domingo para segunda lá no hospital. Quando cheguei na segunda, minha mãe estava linda, de pitó, toda arrumadinha. Eu disse: «Perdi minha “curatela”». O incrível é que minha mãe olhava para mim e dizia: «Essa é minha mãe que cuidou de mim». Num certo sentido é dramático, porque me dou conta de que não tenho posse sobre minha mãe, eu achava que ia cuidar dela até o final de sua vida. Outro dia, após a ter levado a uma consulta médica, em sua volta ao abrigo me disse que nós a tínhamos largado ali. Ela que cuidou de nós a vida toda. Minha tentação foi de deixar tudo para trás e pegá-la de novo. Quando contei isso à Thaís, ela ficou muito brava e me corrigiu. Com o tempo vou compreendendo que o que é melhor para nossos pais nem sempre é claro. Estarem conosco sempre é a primeira opção. No entanto, reconhecer quando essa não é a opção mais adequada para uma determinada circunstância exige de nós um olhar muito atento à realidade, pois Cristo responde, quando indagamos seriamente.

Aparecida Tiemi, Fortaleza