Padre Pigi. «Ele ainda está vivo em mim»
Diante de um encontro aparentemente simples com o missionário amigo, que faleceu recentemente, a percepção de uma santidade «que me lembrava a última vez que encontrei Giussani». A carta de SilviaA notícia de que o Pigi foi para o Céu gerou em mim uma dor inexplicável e uma saudade profundíssima, uma vez que tudo dele ainda estava vivo em mim, por eu tê-lo encontrado duas vezes no último mês, quando fui passar alguns dias em Belo Horizonte. Somente diante desta frase do Salmo 115 (versículo 15): «É sentida por demais pelo Senhor a morte de seus santos, seus amigos» é que entendi: se essa falta é até divina, como é que eu, sendo humana, podia não tê-la?! Isso me encheu de ternura, e começou a emergir a certeza e a letícia pelo cumprimento da vida dele, que sempre falava do “dia natalis” como do Grande Encontro para o qual ele estava se preparando havia tempo.
Tem algo que vem me acompanhando muito nestes dias. Quando fui visitá-lo no dia 5 de janeiro, fiz uma experiência que contei para a Rosa no carro, voltando para casa, e que somente tinha me acontecido com Dom Giussani na última vez que o encontrei pessoalmente. Nos dois casos eu não sabia que era a última vez que os encontraria aqui na terra, mas saindo desses encontros eu tinha dentro de mim uma paz, uma serenidade e uma alegria profunda; tudo em mim e ao meu redor assumiam uma ordem e um equilíbrio que não é nosso. Não é que as preocupações e os problemas não existissem mais, mas Outro se impõe sobre eles e dentro deles. Eu disse à Rosa que para mim era evidente que o Pigi era um santo, por causa dessa experiência que tinha feito e que me lembrava tanto a última vez que eu tinha encontrado Dom Gius.
E esta consciência não me vinha do que conversamos: fizemos uma chamada de vídeo com Dom Giuliano para se cumprimentarem, falamos da Doutrina Social da Igreja, do que ter mais no coração no meu trabalho este ano, da situação das Obras Padre Giussani. Vimos as fotos da represa de Itaipu juntos e rimos muito, porque ele contou que achava coisas e depois desinfetava para usar. Foi um momento simples falando da vida, como já tinha acontecido com ele nas outras vezes que o encontrei. Tem mais a ver com olhares, gestos, silêncios... por perceber como Aquilo que se carrega no coração preenche esses momentos.
Esta certeza da sua santidade, que vem de uma experiência tão carnal e de um afeto cheio de preferência que eu tinha por ele (como posso ter tanta paixão por um homem de 81 anos?), fazem-me olhar para este momento de sua morte com o desejo de ver como «florescerão as sementes plantadas por ele nesta vida, os frutos celestes que nascerão porque as raízes estão no Céu», como ele disse uma vez.
Silvia Caironi, São Paulo (SP)