Em janeiro, minha esposa e eu estivemos em Santana, no estado do Amapá. Fomos chamados da Itália para avaliar um projeto de saúde administrado pela instituição "A nossa família". A consultoria é bastante complexa devido ao ambiente em que o projeto está sendo desenvolvido.

No primeiro dia nos reunimos com o Conselho de Saúde do município, órgão consultivo que deveria nos apresentar às demais autoridade em saúde no Estado e do Ministério da Saúde nos dias seguintes.

O quadro social que eles nos apresentam é sombrio: muita violência, mortes por causa do tráfico de drogas, meninas de 13 e 14 anos já com dois filhos, sem estudo e sem trabalho, pouco repasse de verbas para os municípios periféricos.

Com esta imagem na cabeça fomos levados por Adriana, que é psicóloga na Instituição, para assistir à Santa Missa na igreja mais próxima. Ali ela nos apresentou ao pequeno grupo de Comunhão e Libertação de Macapá e Santana, que se reúne semanalmente para a Escola de Comunidade.

Eles nos recebem com alegria mostrando-nos o texto de Davide Prosperi que tinham lido juntos. Explodem de entusiasmo como só os brasileiros sabem fazer. Eles nos abraçam e nos convidam para um encontro com jogos e cantos.

Assim nos reunimos numa noite e contamos nossas histórias e o que aconteceu para que fizéssemos parte dessa grande realidade que é o Movimento, vindos de realidades tão diferentes.

Ficamos cheios de admiração e gratidão. E fomos embora com uma provocação: neste lugar desconhecido da Amazônia brasileira, o mundo deles está desabando, há uma evasão muito alta nas escolas, a Igreja Católica, outrora centro de obras sociais, está empobrecida por dívidas, os meninos respondem mais a gangues do que a seus pais… E nossos amigos nos convidam para um encontro à noite para cantar! São ingênuos que não veem a realidade ou têm uma esperança invencível?

Dias depois, Socorro, umas das amigas de CL que organizou aquele momento, nos escreveu: «Pensando no testemunho de vocês, sinto o que o Mistério nos quer dizer, o que o Mistério faz conosco: Ele nos aproxima e faz arder o nosso coração, e mesmo que algumas coisas nos entristeçam, não podemos deixar que nos roubem a alegria do encontro».

Marco e Donata