Coleta de Alimentos. Chamados e enviados
Ângela, de Brasília, nos conta sobre a amizade que nasceu a partir da sua dedicação à Coleta de Alimentos junto com outros voluntários. Uma presença que chega até Luís Eduardo Magalhães, cidade vizinha a Barreiras, na BahiaCaros amigos, no final de semana de 20 a 22 de setembro, eu, Natália, Lucas e Francineudo, saímos de Brasília e fomos encontrar os amigos de Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, cidades do estado da Bahia. Nossa história de amizade começou alguns anos atrás, quando me foi pedido ser a coordenadora da Coleta de Alimentos nesta região. Padre Verneson era pároco em Barreiras e conheceu a experiência da Coleta de Alimentos, que na época foi organizada por um casal que havia participado do gesto em Salvador. Padre Verneson viu que a experiência era muito valiosa e útil para as tantas necessidades daquela região, e por isso pediu à Coordenação Nacional da Coleta para recomeçar o gesto naquela cidade.
Assim, a convite do Padre Verneson, fomos apresentar a proposta da Coleta de Alimentos para as lideranças da Paróquia. Dentre essas pessoas, estava a Divina, que se tornou a coordenadora da Coleta na cidade. Nesse primeiro encontro, fomos eu, Arlindo e Regina Tavares. Fomos muito bem acolhidos, e a proposta da Coleta teve grande receptividade. Começamos as visitas e, a cada ano, duas ou três pessoas de Brasília me acompanhavam. No tempo, nasceu uma amizade com o Padre Verneson e com a Divina, e a experiência da Coleta de Alimentos se consolidou em Barreiras.
Em 2019, Padre Verneson foi transferido para Luís Eduardo Magalhães, cidade vizinha a Barreiras. Fiz a ele a proposta para começar a Coleta de Alimentos nessa nova cidade, e ele aceitou imediatamente. Assim, naquele ano, fomos apresentar a Coleta aos novos paroquianos. Ficamos marcados com a quantidade de pessoas que estavam nos esperando para o encontro e com a forma simples e imediata com que eles acolheram a proposta. Fizeram uma belíssima Coleta naquele ano. Depois veio a pandemia de covid-19, não fizemos outras visitas, mas continuamos o vínculo de amizade com as duas cidades através de chamadas telefônicas e pelo WhatsApp. Assim como em outras cidades, eles participaram da Coleta de Alimentos online.
Este ano, nos organizamos para visitá-los novamente. Quando convidei os amigos para me acompanhar, contei um pouco dessa história e disse a cada um: “Você aceita ir comigo para Luís Eduardo e Barreiras? Temos a missão de encontrar os amigos que fazem a Coleta de Alimentos nestas duas cidades. Para mim, encontrá-los, é encontrar Cristo”.
Assim, fizemos sete horas de viagem de carro para ir e sete para voltar. Como sempre, eles são muito receptivos, generosos, alegres e cheios de gratidão com a nossa presença. Ficamos hospedados na casa dos pais da Natália (Nazin e Marinete), que conheceram o Movimento quando moravam em Brasília e também conhecem e participam da Coleta de Alimentos.
Depois de sete horas de viagem, uma grande novidade foi conhecer uma comunidade rural, indo à Missa com o Padre Verneson, na sexta-feira à noite. Ficamos impactados vendo a fidelidade daquelas pessoas, que estavam tranquilas, depois de um dia de trabalho, esperando o padre que vinha celebrar a Santa Missa. Ao final da Missa, eles nos ofereceram um lanche, que na verdade foi um “banquete”, sendo a maioria dos alimentos produzidos nas próprias casas das famílias.
No sábado pela manhã, a Márcia, que coordena a Coleta em Luís Eduardo Magalhães, foi nos buscar para fazer um passeio. Eu não a conhecia pessoalmente, somente pelos contatos telefônicos. Ela nos levou para conhecer a “Gruta de Nossa Senhora”, um lugar belíssimo, de silêncio e oração. Rezamos juntos e ao final dissemos: “Parece que a gente já se conhece há muitos anos”. Na verdade, é aquela familiaridade que é possível somente porque reconhecemos o Mistério de Cristo presente, o rosto bom do Mistério, que é o único motivo pelo qual vivemos e nos movemos.
Com a Márcia e o Padre Verneson, participamos de um encontro com os coordenadores de supermercado e os responsáveis pela comunicação e pela logística. Depois da abertura e acolhida, feitos pela Márcia, eu li um trechinho do texto do Papa Francisco pelo Dia Mundial dos Pobres de 2024 e uma frase do Dom Giussani, do texto O sentido da caritativa, para nos ajudar a dar as razões de participarmos da Coleta de Alimentos.
Em seguida, cada um deu o seu testemunho sobre o que significa participar do gesto. Nazin e Marinete, que antes tinham dúvida se ficariam o dia inteiro no supermercado, confirmaram que seriam coordenadores, dando total disponibilidade para realizar o gesto.
Depois do almoço, fomos para Barreiras. A certo ponto do caminho, o Francineudo disse: “Ângela, o convite para vir nesta missão foi o maior presente que você poderia me dar. Estou disponível para voltar”. Eu fiquei em silêncio, comovida. Depois, retomamos as conversas, mas sempre sem banalizar nada, com o desejo de não perder a beleza do que estávamos vivendo.
Em Barreiras encontramos a Divina e uma amiga que a ajuda na coordenação da Coleta na cidade. Também com elas, os diálogos foram belíssimos, sempre partindo da experiência da vida. Falaram da beleza da experiência da Coleta 2023 e também das dificuldades que estão enfrentando neste ano. Essa amiga contou sobre o trabalho dela como professora em uma escola pública, dizendo que deixa o carro em casa e vai de ônibus, para ficar mais perto das pessoas que moram no bairro. Ela observa as pessoas, escuta, leva lanche para o motorista, e às vezes se sente impotente ao se deparar com tanta necessidade. Na escola, ela não se contenta somente em “dar aulas”; ela é uma professora que se envolve com os alunos. E isto acaba incomodando os outros professores. E o que isso tem a ver com a Coleta de Alimentos? Ela tem um grito, diante das necessidades com as quais se depara todos os dias. De fato, o lema da Coleta de Alimentos é “Compartilhar as necessidades, para compartilhar o sentido da vida”. Ela participou da Coleta no ano passado, se identificou, e disse que este ano vai convidar os alunos para serem voluntários, porque eles também precisam dessa experiência.
Seja em Luís Eduardo, seja em Barreiras, os encontros foram maravilhosos. Vimos uma paixão pelo gesto da Coleta de Alimentos, um desejo grande de fazer o bem. O fazem com muita paixão e gratidão. Nos encontros, se falava da Coleta, mas dentro experiência da vida, onde se falava de tudo, da família, do trabalho, pediam ajuda, etc. Havia também pessoas novas que estão começando agora, além daqueles que estão desde o início. Um espetáculo, onde prevalece a graça de Deus, o acontecimento de Cristo de forma humana e concreta.
Como é verdade o diz Padre Giussani falando da caritativa, que “a lei última do ser e da vida é a caridade. Que a lei suprema do ser é compartilhar o ser com os outros, é pôr em comunhão a si mesmo”. Naqueles quase três dias com os amigos de Luís Eduardo e Barreiras, nós vimos e vivemos essa experiência, estando com eles, compartilhando a vida, as dificuldades, as dores e as alegrias.
Ângela, Brasília (DF)#ColetadeAlimentos