Alessandra (em primeiro plano) com jovens voluntários na Coleta de Araraquara.

Uma Coleta possível

Um convite e um sim. O relato da primeira Coleta de Alimentos em Araraquara (SP), que se uniu a outras 45 cidades contribuindo para a arrecadação 93,9 toneladas no Brasil na ação ocorrida no sábado 9 de novembro

Amigos, gostaria de compartilhar com vocês a experiência e a grande graça, que foi organizar a Coleta de Alimentos aqui em Araraquara. Foi uma ocasião para, de fato, tocar com mão, que Deus precisa simplesmente do nosso sim. Estou no Movimento há 32 anos e moro em Araraquara há 28 anos. Eu sou a comunidade de Araraquara e, dentre percalços, distanciamentos e aproximações – por vezes conectada a essa história apenas pela leitura da Revista Passos – sempre entendi a experiência de CL como algo muito grande e verdadeiro. Esse ano, durante a Assembleia de Responsáveis do Brasil (ARB), me sentei para almoçar com a Glorinha de Rio Preto, que me propôs realizar a Coleta na minha cidade. Na hora disse sim, mesmo sem ter a mínima noção do que significa coordenar essa ação. Mas foi um sim muito simples e verdadeiro, talvez como uma resposta ao meu pedido diário de ser a presença de Cristo aqui em Araraquara, através dessa experiência que encontrei.

Quando começaram a chegar as orientações para organizar a Coleta, fui me dando conta da responsabilidade e de tudo que era necessário fazer. O primeiro pensamento foi “o que foi que eu inventei?”; porém, sempre tive claro que o meu sim a essa proposta era verdadeiro, e que é esse sim que Deus precisa de nós para agir. Não vou dizer que não fiquei preocupada, pois passei por muitos obstáculos, inclusive o de ter meu pedido negado, em princípio, pelo gerente (mesmo havendo uma ótima parceria entre a rede de supermercados que me havia sido proposta inicialmente), como também a busca por voluntários para montar os turnos das 8h às 18h. Quando, da negativa do gerente, enquanto ele dizia que eu não poderia fazer a Coleta lá, só pude pedir a Dom Giussani que me ajudasse, que intercedesse naquele momento, que o meu sim era verdadeiro… Depois de ouvir as explicações do gerente, só pude olhar nos olhos dele e dizer “essa é a primeira vez que estou organizando essa ação em Araraquara, aqui sou somente eu, por favor nos permita fazer essa ação aqui nesse supermercado”. Ele, então, permitiu.

Estar sozinha “fisicamente” é uma realidade, traz uma dificuldade, porém ofereci e pedi ao Senhor que se fizesse presente, que me desse uma companhia. Isso me trouxe uma grande paz. Não é que os problemas tenham se resolvido magicamente, mas nasceu uma certeza de que eu não estava sozinha. Da organização da Coleta tive o apoio do Gilson de Catanduva, que se fez companhia todo o tempo, e me senti abraçada e acolhida por Deus também nas palavras do meu marido: "Vamos fazer o melhor que der dentro do que for possível". Convidei amigos do trabalho e da paróquia para serem voluntários e, aos poucos, fomos preenchendo os horários para completar o período todo que compreendeu a ação.

A Coleta aconteceu de uma maneira muito simples, mas muito bonita! Meu marido e eu tivemos pela manhã, a colaboração dos jovens do grupo de oração AMI Jovem. O padre Daniel me apresentou a eles, que abraçaram a proposta e, ao abordarem as pessoas, trouxeram nas suas palavras e atitudes o lema “compartilhar as necessidades para compartilhar o sentido da vida”. À tarde, contei com a presença de amigos do trabalho, da paróquia e dos meus filhos: Miguel de 14 anos e Marco Aurélio de 11 anos, que me surpreenderam com o envolvimento que tiveram e, principalmente, de como esse gesto tocou a cada uma dessas pessoas envolvidas.

Uma das jovens, enquanto eu conversava e contava um pouco da experiência de CL e do nosso carisma, me disse: “Eu também entendo que Cristo tem que estar presente na nossa vida, no dia a dia… Puxa, tenho certeza de que Cristo está falando comigo através de você hoje!”. À noite, na reunião do grupo de jovens, ela contou a experiência que teve com a Coleta e de como sentiu de verdade Cristo presente através daquelas pessoas que encontramos, que percebeu como Deus precisa do nosso sim para se fazer presença, sinal e caminho.

Sou professora e um dos meus colegas de trabalho estava passando por um processo de depressão intenso, não estava indo trabalhar, mas quando fiz o convite para participar da Coleta ele aceitou prontamente. Chegando lá, para cada pessoa que ele abordava, se via a alegria estampada no seu rosto! Ele ficou até mais tempo do que havia se prontificado e quando foi embora disse: “Muito obrigado pelo convite, eu saio daqui hoje, uma nova pessoa”. Ele conseguiu retornar ao trabalho e novamente me disse: “Obrigado por me tornar parte dessa experiência, estou renovado” e desde então, não faltou mais ao trabalho e está mais feliz.

Meu filho caçula, de 11 anos, ficou tão tocado com a Coleta que, durante a missa de domingo (ele estava servindo de coroinha), na hora da homilia, pediu ao padre para dar um testemunho. Eu fiquei tão surpresa que fiquei sem ação, e ele contou como tinha sido muito importante para ele fazer a arrecadação de alimentos, que ficou muito tocado com um senhor que estava com um carrinho “cheio de alimentos” e tirou uma sacolinha do carrinho. Ele pensou que a doação era a sacolinha, mas o senhor disse: “A sacolinha é minha, o carrinho é de vocês”. E disse: “Aquele senhor não deu o que sobrava, mas quis ajudar com tudo o que podia, como o padre estava dizendo agora. Foi cansativo, mas eu fiquei muito feliz em ajudar e conhecer aquele senhor”.

A quantidade de alimentos arrecadados por nós, surpreendeu tanto o gerente do supermercado quanto os responsáveis pelo Mesa Brasil, que receberam as doações. Ao final, agradeceram e disseram que nunca haviam recebido uma doação tão organizada e tão significativa quanto essa, das coletas realizadas nesse supermercado.

Para mim, foi ocasião para entender que, Deus só precisa do nosso sim, depois Ele age na realidade e torna possível o que antes poderia ser considerado impossível. Eu estive presente no primeiro Dia Nacional da Coleta de Alimentos há 29 anos em São Paulo e jamais passou pela minha cabeça que um dia teríamos essa ação em Araraquara. Ficou mais uma vez evidente que não estou sozinha, que Cristo se faz companhia a mim através das pessoas que me faz encontrar, através do meu filho, que me ensina a entender o valor desse gesto, através do meu grupo de Fraternidade que, apesar da distância, são a presença e a referência concreta da experiência do Movimento na minha vida. Enfim, entendi que o mais importante é estar atenta e dizer o meu sim simples e verdadeiro, pois é desse sim que Ele faz novas todas as coisas.

Alessandra Gibello, Araraquara (SP)