
Acampamento. O azul do céu
O acampamento de carnaval é tradição no CL de Minas. Neste ano, expandiu-se para outras regiões com o tema “Um lugar que muda o sonho em esperança”. A seguir, a experiência de um jovem que participou da edição paulista numa fazenda em Sengés, PRAssim que recebi o convite do acampamento, tive a certeza de que não era como eu desejava passar este feriado, mas que era como eu deveria passá-lo. E me dei conta de que durante estes dias pensei muito pouco no Mistério, pois estava com Ele. Não se pensa em alguém que está na sua frente, olha-se.
Eu me descobri capaz de ser como criança: eu e Aninha andamos de cavalo (ela no meu colo fazendo “potocó, potocó, potocó…), pensamos em como poderíamos pegar a lua para nós ou subir até lá (discordamos nos métodos, e acabou que a lua ficou lá no céu e nós no chão) e também vimos as estrelas acordando e abrindo os olhos depois do pôr-do-sol. Até comemos a luz da estrela e colocamos uma no meu bolso (não! era a minha lanterna). Ao pequeno Alex, completamente entediado durante o sarau, chamei para acompanhar a letra das músicas e ficamos entediados juntos, o que o animou (brincadeira, eu adorei). E também tentei explicar para a Maria, que me disse ter 5 anos, que eu era só dois anos mais velho que ela, pois tenho 25. Eu mostrei a mão esquerda com dois dedos e a direita com cinco: 25. Tirei a direita com cinco, a idade dela, e só sobrou a esquerda, com dois. Eu tentei explicar várias vezes, mas ela só ria de mim falando que dois mais cinco era sete.
Ao olhar para o céu, tão azul, tão limpo, aquele de brigadeiro e que nos acompanhou algumas vezes, não conseguia parar de lembrar daquilo de que me dava conta há alguns dias antes de ir para lá: não conheço nada como o céu: sem partes, só um todo, um só, simples. Quando me detenho, parece perto. Estico a mão e não chego lá. Busco o começo e o fim e não vejo. É enorme, pra lá da lua e do sol. Está ali na minha cara: vejo, mas não vejo. Não sei o que vejo. Mas é o céu! Grande, mistério. Mistério.
Ao participar do tão inesperado desfile de carnaval, me descubro gargalhando como criança ao escutar a história do Ricardo, que foi com o Ícaro na estrada, bem longe, para lançar fogos de artifício, que nos teriam dado a vitória se alguém tivesse visto o espetáculo que ocorreu no horizonte enquanto todos estavam de costas para ele. Ah, e também ao ver Pe. Inácio surgindo de repente em cima do carro alegórico (caçamba da camionete) e até descendo, enquanto avançava, para poder seguir sambando ao modo italiano na frente dos jurados (que eram os donos da fazenda que nos hospedava!).
E por fim, saltando mais de mil momentos, me dando conta de que nem todos viviam o que eu estava vivendo, vendo como eu estava vendo o que todos viam. Havia também quem tinha em si a grande pergunta sem resposta, o sonho, ainda não transformado em esperança… quem via apenas um acampamento.
E então me dei conta… me dei conta de que mais do que tudo, eu queria que todos vissem, que todos soubessem que o azul do céu que nos cobria lá não era um azul qualquer, mas o Azul: que me cobre a mim e a todos os outros, hoje e amanhã, lá e aqui. Sempre o mesmo azul, imponente, manso... misterioso.
Vinícius, São Paulo (SP)