Via Sacra pela Av. Paulista (Foto de Gabriel Duarte)

A memória de Cristo pelas ruas da cidade

As comunidades de CL em todo o mundo participaram do gesto da Via Sacra na Sexta-feira Santa seguindo as meditações de Dom Giussani. A seguir, a carta de uma amiga sobre o impacto desta proposta no coração da cidade de São Paulo

Comecei a Semana Santa carregando uma frase do Cardeal Farrell durante os Exercícios da Fraternidade de CL na Itália: “Mas alguns cristãos chegaram, talvez vinte, trinta pessoas, e os cronistas da história romana, como Cássio, escreveram: como você reconhece os cristãos em nossa cidade? Pelo modo como se tratam uns aos outros. Eles eram cristãos leigos que vieram do Norte da África, chegaram a Roma e converteram todos”.

Quando na manhã da sexta santa, chegando um pouco mais cedo na Igreja de Santa Generosa em São Paulo para participar da Via Sacra, li o comentário inicial de Dom Giussani, fiquei marcada por este acento: estávamos ali “para entrar num Acontecimento, é uma forma de memória ... peçamos a Deus a graça de entender, de compreender cada vez mais...” porque “diante de um grande Mistério”, como nos lembrou Dom Rogério Augusto das Neves, bispo da zona central de São Paulo que esteve conosco, somente se pode pedir que “o coração compreenda cada vez mais.”

E quando começamos a caminhar na Avenida Paulista, centro da cultura e centro financeiro da América Latina, foi impressionante ver a imponência do nosso pequeno povo, caminhando em silêncio, diante as pessoas que se deparavam conosco. Havia quem tirava fotos, quem fazia o sinal da cruz, quem agradecia, quem perguntava, quem simplesmente ficava escutando parado. Realmente a proposta de uma memória! E pode ser que impacte tangencialmente, que alguém que ficou tocado voltando para casa já tenha se esquecido, mas a forma deste gesto físico moveu algo naqueles homens e mulheres neste dia. Porque como diz Charles Péguy numa das leituras: “O que era, então, o homem. Este homem que ele viera salvar. (...) Uma vida humana como homem, não basta para conhecer o homem. Tão grande é ele. E tão pequeno é ele. Tão alto é ele. E tão baixo é ele. O que era então o homem (...).”



Diante de tudo isso que vi e que as leituras me ajudavam em aprofundar, me preencheu ainda mais de comoção cantar as palavras “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino”, porque que Ele se lembre de mim faz com que eu lembre de todos estes homens e mulheres, que hoje vi mexidos pelo que os seus olhos enxergaram e os seus corações interceptaram.

Esta Via Sacra fez com que eu me aproximasse mais da superabundância e da beleza da experiência que a Ressurreição coincide com um povo que caminha unido porque olha e canta “Vitória, tu reinaras; ò Cruz, tu nos salvarás... À sombra dos teus braços, a Igreja viverá”. E tudo isso me fez lembrar das palavras do Cardeal Farrell: seja em Roma nos primeiros séculos, seja em São Paulo agora, esta continua sendo a aventura de quem encontrou Cristo ressuscitado!

Silvia, São Paulo (SP)