“Por que ir atrás dos porquês?”
Um momento de convivência no final de julho reuniu a comunidade de São Paulo. Testemunhos, cantos, oração. Um ponto de encontro para criar e fortalecer amizadesSol, piscina, churrasco, amigos e um violão: uma combinação perfeita para um dia de sábado, mas a proposta era muito mais do que isso. O dia de convivência da comunidade de CL em São Paulo, compreendendo a capital e as cidades do interior, foi pensado partindo do desejo de estar juntos de uma certa forma, ser companhia dentro do nosso dia a dia, olhando com simpatia a nossa humanidade. Por isso o encontro de sábado 27 de julho foi intitulado “Por que ir atrás dos porquês?”. Francesco, responsável diocesano do Movimento em São Paulo, iniciou lendo o testemunho de um amigo sobre o dia de convivência ocorrido em janeiro, no qual dizia: “Foi um dia em que não tive a sensação de ter perdido tempo, um dia cheio de significado e com uma proposta”. Com o objetivo de repetir e aprofundar a experiência desse nosso amigo, logo no início fizemos uma conversa com a psicóloga Camila Marcoccia e o psiquiatra Sérgio Ishara. O bate-papo, mediado por Thiago de Andrade, falou sobre a dinâmica humana, os desejos e as perguntas despertadas em nós no contato com a realidade, a importância de levá-los a sério e como isso faz parte da vida cotidiana. O diálogo falou de como surgem as perguntas e o que acontece conosco quando as levamos a sério, sendo os protagonistas.
Camila nos lembrou que o homem é abertura para a realidade, somos constituídos, e a criança, com seu olhar simples, evidencia esse sinal e o maravilhamento sobre essa nossa originalidade. O contexto social e o contexto histórico vão nos modelando e vão nos afastando dessas perguntas, e para onde ir. “Um menino de 6 anos que eu atendi, cujo avô tinha falecido, trouxe a pergunta sobre o que vem depois da morte, e a mãe dizia que não acontecia nada. A mãe afirmou que a criança não poderia ter esse tipo de pergunta, pois não tem por que se perguntar sobre isso. E ao invés de abrirmos a possibilidade de um caminho, nós já fechamos qualquer possibilidade”, disse Camila.
A conversa deixa como proposta para os participantes desse dia não ter medo das perguntas que surgem, mas se familiarizar com elas, partindo de uma companhia que nos sustenta, afirmando sempre que nós somos essas perguntas e que cuidar um dos outros envolve essa dimensão humana.
E o Sergio trouxe o exemplo do japonês Takashi Nagai. O livro que conta a sua história exemplifica o quanto é importante a nossa amizade e como é importante a levarmos a sério.
Depois desse momento, a convivência prosseguiu com brincadeiras, almoço comunitário, tempo livre para aproveitarem as recreações do lugar, e músicas ao ar livre completaram o dia, possibilitando a todos se conhecerem, se divertirem e conversarem. Um ponto de encontro para criar e fortalecer amizades. As brincadeiras facilitam que se conheçam novas pessoas, mas também integra os participantes de todas as idades, de crianças a idosos, todos juntos numa atividade única.
Não podemos deixar de dizer que momentos de oração, no início e final do gesto, também aconteceram: as laudes e a missa, respectivamente e com importância ímpar, ajudando a nos lembrar que quem nos sustenta juntos e em caminho é um Outro. “Pobre voz de um homem que não existe, é a nossa voz, se não tem um porquê; deve gritar”, diz o canto Povera voce (pobre voz), escrito por uma colegial na década de 1950 no início do Movimento na Itália. A nossa companhia é justamente para nos ajudar a gritar e implorar por esse porquê, como nos lembrava o Sérgio retomando a letra dessa música que cantamos tantas vezes no Movimento: “A nossa voz que pede vida ao Amor, não é a pobre voz de um homem que não existe, a nossa voz canta com um porquê”. Levar a sério a humanidade e as perguntas para encontrar esse porquê. Uma companhia que é uma ajuda para que todos os nossos dias, não só os dias de convivência, sejam cheios de significado e propósito, uma companhia que ajuda, como disse a Camila, “a descobrir que cada desejo, até os mais cotidianos, são espera e possibilidade de encontro com Ele”.