Gabriel Cruz e Dom Antônio Luiz Catelan Ferreira

Rio de Janeiro. A esperança não engana

No Rio de Janeiro, como primeiro gesto em preparação ao Jubileu da Esperança, um evento para aprofundar os pontos da Spes non confundit, a Bula da proclamação do Jubileu 2025
Ana Beatriz M. Fonseca

No dia 5 de novembro de 2024, o movimento Comunhão e Libertação realizou, com o apoio do Centro Dom Vital, um encontro sobre a Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do ano de 2025, elaborada por Papa Francisco, cujo tema está diretamente ligado à esperança, nosso objeto de trabalho desde os Exercícios da Fraternidade de CL deste ano. A apresentação foi feita por Dom Antônio Luiz Catelan Ferreira, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, e a mediação do evento ficou a cargo do professor universitário Gabriel Cruz, docente da Faculdade de Cinema da Universidade Federal Fluminense.

Dom Catelan iniciou sua apresentação indicando que existem três referenciais para entender o jubileu: a própria Bula de sua proclamação, que na versão brasileira já vem com as normas a respeito das indulgências do jubileu; a descrição do ritual para a celebração de sua abertura e conclusão em nível local; e a Carta Pastoral, escrita pelo Cardeal Dom Orani Tempesta, para que os bispos e presbíteros pudessem orientar as comunidades na vivência do jubileu dentro da diocese do Rio de Janeiro. Além disso, frisou que o jubileu será aberto no dia 24 de dezembro de 2024, em Roma, e no dia 29 do mesmo mês nas demais dioceses pelo mundo, terminando dentro das oitavas de Natal de 2025, uma vez que se comemora o Jubileu da Encarnação.

O primeiro jubileu, como nos explicou, tem registro oficial em 1300, através de registro do Papa Bonifácio VIII, que já citava a realização de um jubileu anterior e que quis oferecer de forma ampla as indulgências, podendo atingir a todos. A duração do intervalo entre jubileus variou ao longo do tempo, indo desde 25 até 100 anos. Com o Papa Paulo II, passou-se a manter o intervalo de 25 anos entre os jubileus de modo que todas as pessoas pudessem ter a oportunidade de participar de um deles pelo menos alguma vez em sua vida, tendo uma motivação profundamente evangelizadora e marcada pela misericórdia. Apenas o Papa Alexandre VI acrescentou à liturgia a figura da porta, onde a porta principal de uma igreja sempre simboliza a figura de Cristo, que afirma que aquele que por Ele passar será salvo.

Dom Catelan também explicou que o termo “jubileu” parece ter sido derivado da palavra judaica “yobel”, que representava o chifre do carneiro que era usado para chamar a assembleia e anunciar o “Dia da Expiação”. Somos chamados a nos deixar guiar por esse som, pela voz da Igreja que ressoa na voz do nosso pastor, Papa Francisco, para sermos conduzidos a essa experiência salvífica. É a entrega de misericórdia de um Pai quer nos tirar do exílio da perda do sentido da existência e o quer conduzir a Si. Segundo ele, o livro do Levítico tem a descrição e orientação sobre a realização dos jubileus e permaneceu como uma referência à forma de celebrar um jubileu, fazendo-se experiência de uma grande libertação. Mas essa libertação, a redenção do povo de Israel, aconteceria de forma definitiva através da pessoa de Cristo, e Ele compreendeu seu papel no texto de Isaías que escolheu para ler ao iniciar sua missão (segundo narrado pelo Evangelho de Lucas).

Tudo em um jubileu, segundo Dom Catelan, é para fortalecer, aprofundar, renovar e oportunizar um encontro com Cristo. Ele, em pessoa, é o caminho, a porta, a redenção, a libertação. Mas um jubileu não precisa ter necessariamente um tema. Os temas são auxílios pedagógicos da nossa Igreja, uma leitura em profundidade do Papa Francisco sobre a conjuntura internacional, em que a mais grave de todas as crises atuais é, justamente, a da esperança, como pode ser visto em uma cidade grande como a do Rio de Janeiro. E ele frisou que, quanto mais a violência chega perto de nós e até mesmo nos lugares sagrados, mais nós precisamos apostar na esperança, banindo, ao máximo, qualquer forma de violência, de divisão, de polarização nas nossas casas, comunidades, e que nossas palavras possam ser como pequenas estufas onde se semeia a esperança. No mundo e na nossa cidade, estamos passando por várias guerras (a terceira guerra mundial aos pedaços, segundo o Papa Francisco).

Segundo Dom Catelan, a Bula Apostólica do Papa Francisco comenta sinais tradicionais, como a porta, a penitência e a inauguração do jubileu, mas tudo isso como ponto de partida para conseguirmos promover sinais de esperança para o mundo. A disposição da Penitenciaria Apostólica trata da concessão das indulgências, além das peregrinações aos lugares sagrados, em Roma ou nas dioceses, além das obras de misericórdia e de penitência. Ele afirmou: «Imagine se nós todos, católicos, estivéssemos empenhados em viver bem o jubileu, multiplicando ações de misericórdia! Que grande impacto isso teria na sociedade!» São sinais que são sementes e que podem tocar as pessoas e ajudar a transformá-las em profundidade.

No jubileu, o Papa também dedica uma seção da Bula para falar da esperança no que é definitivo, dirigida para a comunhão última em Deus. Ele faz também algumas reflexões sobre a morte, sobre a felicidade, o sacramento da penitência, o perdão dos pecados, a peregrinação, as obras de piedade, de penitência e de misericórdia, sempre realizadas com a intenção de crescermos, amadurecermos e nos identificarmos mais profundamente com Nosso Senhor; e, também, como lhe é habitual, recorre sempre à ajuda da Mãe de Deus, como intercessora.

Depois disso, Dom Catelan comentou a Carta Pastoral de Dom Orani, que dá as orientações de como o jubileu acontecerá em nossa cidade, desde a procissão de abertura até o seu encerramento. O grande símbolo adotado será uma cruz em que cada diocese colocará um sinal onde a esperança é desafiada. Cada uma das dioceses colocará seu sinal ao longo da peregrinação por todas as elas. No caso do município do Rio de Janeiro, o símbolo escolhido foi o de uma bala, para sinalizar a violência e a insegurança que infelizmente caracterizam a cidade ultimamente.

Além da apresentação dos detalhes pertinentes ao jubileu e aos documentos correlacionados, Dom Catelan respondeu algumas perguntas retomando a relação do tema da esperança com a figura da âncora, levantada por Dom Giovanni Paccosi nos Exercícios da Fraternidade do movimento Comunhão e Libertação; e explicou detalhes sobre o logotipo do jubileu, mencionando a cruz que se torna âncora de esperança e que as diferentes cores das personagens no logotipo têm relação com a diversidade humana no mundo. Ele finalizou sua fala indicando que o mundo vive uma crise antropológica, colocando necessidades de consumo como mais importantes do que as necessidades essenciais do homem, levando a uma parcial ou até total desumanização. Para finalizar o encontro, o Bispo nos presenteou com a leitura da poesia de Adélia Prado “A menina aprendiz”.