Testemunhos da caritativa em Porto Alegre

A seguir, alguns testemunhos dos jovens e educadores que participaram da viagem. São testemunhos ricos e significativos porque relatam experiências também após a caritativa em Porto Alegre.

"O título da viagem foi 'Peregrinos da Esperança', e por um tempo eu tive a falsa ideia de que eu, ou nós como grupo, seríamos um símbolo de esperança para as pessoas que encontrássemos lá. Mas logo no primeiro dia conhecemos a D. Vilma, uma senhora que trabalha na secretaria da Paróquia onde ajudamos com a triagem das roupas, e com ela percebi que ter esperança vai muito além de pensar 'positivo'. Ela, mesmo em meio ao caos, tinha uma certeza, uma clareza e uma serenidade que me chamaram a atenção. Com a D. Vilma aprendi o quão essencial é essa certeza e como sou cuidada por Alguém. Tenho conversado com alguns amigos sobre como tem sido retomar a rotina depois dessa caritativa, e me dei conta do quão feliz eu estou e a felicidade que aqueles dias me proporcionaram. É uma alegria diferente, nunca tinha sentido nessa intensidade. Parece uma felicidade sem fim, que me faz viver os dias cada vez mais de forma intensa. Mesmo dentro de uma rotina repetitiva e cansativa, só de lembrar daqueles dias e dos amigos que fiz lá, essa felicidade 'vem com tudo' e me transborda de uma maneira que eu nunca imaginei."
Ana Beatriz - São Paulo (Colegial)

"Naqueles seis dias em que nós viajamos e ficamos hospedados na Paróquia Santa Maria Auxiliadora, houve muita diversão, alegria, aprendizados e amizades. Tudo foi absurdamente incrível, a cada dia que passava, mesmo com o trabalho árduo que fazíamos nas outras igrejas: torcíamos para que aquele momento nunca acabasse. Mas, um acontecimento específico me marcou e ficará eternamente marcado em minha memória: a minha conversa com a dona Vilma. Ela nos contou sua experiência com a enchente, e ainda posso sentir o pesar de suas palavras e suas lágrimas inevitáveis, ao descrever o que passou. Todavia, mesmo perdendo tudo, havia uma grande alegria em seu rosto, ou melhor, uma grandíssima esperança que brilhava em seus olhos. Aquilo me intrigou e me provocou de tal maneira que resolvi conversar com ela pessoalmente, para entender o porquê da esperança que ela carregava, mesmo naquela situação. Fiz apenas duas perguntas: 'Dona Vilma, por que Deus deixou a enchente acontecer? E como a senhora conseguiu contornar essa adversidade e, mais que isso, ter essa esperança, não só para se levantar sozinha, mas sim para levantar uma comunidade inteira?'. E eis aqui a resposta daquela boa senhora: 'Deus não foi responsável pela enchente, ele nunca faria algo assim com seus filhos amados. Porém, o Senhor nos ama tanto que ele proporcionou a toda humanidade uma dádiva chamada livre arbítrio. Pela ganância dos homens, não houve manutenção do sistema de escoamento da cidade e, pelo mesmo motivo, o aquecimento global acontece, provocando as chuvas mais fortes. Entretanto, nunca se esqueça, meu filho, é esse mesmo livre arbítrio que permitiu que vocês e eu estivéssemos aqui para ajudar esse povo! Agora, sobre a sua segunda pergunta, eu digo que só fiz o que fiz porque tinha fé em Deus. Tinha fé de que ele sabia o que estava fazendo e, mesmo não entendendo o porquê da realidade estar daquele jeito, eu acreditei que Deus tinha algo a me dizer diante daquela enchente. Eu sabia que aquela catástrofe era maior que eu. Então, quando as coisas são maiores que a gente, nós devemos sempre deixar a nossa vida nas mãos do Senhor. E olhe: vocês estão aqui, o Brasil se mostrou mais unido, o povo ajudou o povo, uma forma de gentileza e empatia que muito dificilmente aconteceria em condições normais. Famílias que, mesmo antes da enchente, não tinham nada, recebendo doações que fazem total diferença na vida delas. Não estou dizendo que a enchente não foi ruim, mas sim, que ela proporcionou esses acontecimentos entre nós'."
Gabriel - Belo Horizonte (Colegial)

"As férias dos colegiais desse ano foram históricas. Desde o momento em que chegamos (Brasília e São Paulo), fomos tomados por um sentimento de serviço, fato que se comprovou logo no dia seguinte, quando conhecemos a dimensão e a importância dos trabalhos que iríamos fazer. Durante os trabalhos, pudemos conhecer pessoas que passaram por uma tragédia e sobreviveram, de todas as formas. Esses testemunhos foram uma força motriz para nos unirmos como colegiais do Brasil e nos conhecermos melhor. Cada dia era uma nova surpresa, um novo ensinamento, durante as assembleias à noite. Frente às perguntas do Pe. Moisés e do Pe. Ignazio, foram dados testemunhos que culminaram numa Escola de Comunidade em que o Pe. Moisés só pôde descrever como 'belo'. Já na volta da viagem, quando fizemos uma assembleia no ônibus, foi-me perguntado o que eu ia levar dessa viagem. Eu disse: 'Vim para cá com meus amigos, os colegiais de Brasília, mas volto pra Brasília com meus amigos de todo o Brasil'. Acredito que as coisas mais importantes são as amizades verdadeiras. Espero que, com esses testemunhos, pelo menos eu aprenda a enxergar aquilo que não via no cotidiano, o extraordinário no ordinário.
Pedro Ivo - Brasília (Colegial)

Jovens ajudam a separar as doações de roupas.

"Minha jornada para Porto Alegre como peregrina da esperança começou com uma dúvida profunda. Eu me perguntava se realmente deveria participar. O desafio de sair da minha zona de conforto, de enfrentar uma tarefa tão exigente quanto encontrar e ajudar pessoas afetadas pelas enchentes, parecia grande demais para mim. Eu temia não dar conta, mas ao ver meus amigos se unirem à causa, algo dentro de mim mudou. Resolvi seguir seus passos e embarcar nessa jornada, mesmo com o coração ainda um pouco inquieto. Ao chegar em Porto Alegre, percebi que a decisão de ir foi uma das melhores que já tomei. Cada momento com o grupo de jovens foi repleto de aprendizado e companheirismo. Mas o que me marcou ainda mais foi a presença dos adultos que nos acompanhavam, cuja sabedoria e fé foram um apoio constante. Juntos, vivemos experiências intensas, que nos conectaram de forma profunda, não só uns aos outros, mas também à nossa missão e à presença de Cristo entre nós. A cada dia, fui percebendo que meu medo inicial era, na verdade, uma oportunidade de crescimento. O trabalho que realizamos, o contato com as pessoas que tanto precisavam de esperança, encheu meu coração de uma gratidão imensa. Voltei para casa com a alma renovada, sentindo uma fé mais forte, alimentada pelos encontros que tive e pela certeza de que Cristo esteve conosco em cada passo dessa caminhada. Essa viagem não foi apenas uma experiência, mas uma verdadeira renovação de fé, um presente de Deus que levarei comigo para sempre."
Tânia Regina, São Paulo (Educadora)

"Todos os gestos que fizemos nos deixaram mais próximos uns dos outros e tínhamos um único objetivo: ajudar aqueles que tinham passado por tantas dificuldades. Quando cheguei em Porto Alegre, nas paróquias, achei que estariam todos deprimidos e ver que tinham muitas pessoas alegres, como dona Vilma e dona Vanizia, mesmo com tudo que passaram, me fez ficar mais feliz, querendo me esforçar o máximo possível. Uma canção chamada “Alvorada” demonstra muito do que passamos nesses dias: “A festa já começou/ Nossa vida encontrou um lugar / Que muda o sonho em esperança / E que nos enche de certeza!” (canção de Virgilio Resi e Arlete De Bellis). A festa que fazíamos quando estávamos juntos, nos mostrou que achamos o nosso lugar e nos enche de certeza de que Deus está entre nós. Eu, mesmo sendo uma pessoa muito extrovertida, acho que nunca pensei que fosse fazer tantas amizades, como fiz nessas férias, pois todos estavam abertos a tudo. Conversei com pessoas que nunca tinha visto na vida e tive discussões que me tocaram de verdade. É como minha mãe disse quando estávamos conversando: 'Pode considerá-los amigos! É algo grande o que une vocês!' Essas férias me ajudaram a reforçar minha fé em Deus. Ver que Ele faz tudo certinho nas nossas vidas: deixa acontecer essa enchente para mostrar que nós, seres humanos, podemos ser bons e nos movimentar para ajudar o próximo. É como disse o Marcos na assembleia: 'Nós vamos sair daqui mudados e levando várias experiências para a vida toda'. Acho que todos nós ficamos mais agradecidos de vir aqui do que as próprias pessoas que nós ajudamos.
Bernardo - Belo Horizonte (Colegial)

"Antes de ir para as férias, eu estava em um período complicado: entrando na nova realidade que é o ensino médio. Isso me fez buscar novas experiências de vida, e foi um dos motivos para ir às férias. Durante a viagem eu pensava no que ia encontrar, porém, algo mudou o meu pensamento. A frase 'nada é óbvio' me fez pensar: 'Eu vou conhecer um novo lugar, fazer novas amizades e ajudar com a minha força no que for preciso'. Foi o que aconteceu. No primeiro dia, foram separados os grupos que iriam ir para a Paróquia Santa Catarina ou à São Miguel. Com certeza foi um marco na viagem, porque eu fiquei num grupo diferente do meu irmão. Eu era muito apegado e fazia poucas coisas sem ele. A primeira impressão que eu tive da Paróquia Santa Catarina, onde ajudei, foi a quantidade de trabalho. Dava para ver a marca e a destruição que a lama deixou. Porém, a confiança que as pessoas que nos receberam em relação a nós, era impressionante. Eram pessoas com fé em Deus e que confiavam na Sua providência. Em três dias conseguimos fazer uma grande diferença na Paróquia. Com certeza, algo que demoraria semanas, foi feito em três dias. Mas o impressionante era que quanto mais eu trabalhava e pensava no propósito do meu trabalho, eu ficava feliz e soltava um sorriso por baixo da máscara facial. Também a união que se formou após o trabalho foi incrível. Quando eu penso novamente na frase 'nada é óbvio', eu sinto uma gratidão que faz arder o peito. O sentimento de gratidão é o que levo dessas férias. Com certeza eu voltei mais realizado."
José Ivo - Brasília (Colegial)

Limpeza da quadra da Paróquia Santa Catarina.

"O meu jeito de olhar para a vida mudou muito depois do que eu vi e ouvi com os testemunhos das pessoas que a gente conheceu e conviveu. Mesmo depois dessas pessoas perderem tudo (casa, alimentos, familiares), elas tiveram uma motivação que eu não sei explicar de onde foi tirada, deixaram pessoas cuidando de suas casas e foram ajudar outras pessoas que elas nem sequer conheciam, e isso me fez olhar para a vida de uma forma diferente. Então, obrigado, Rio Grande do Sul, por mudar o jeito do meu olhar para a vida."
Luís - Belo Horizonte (Colegial)

"Trabalhei na igreja São Miguel. Quando eu cheguei, não estava muito a fim de trabalhar, mas ao ouvir a história de dona Vilma, fiquei focado. No dia seguinte me impressionou que dona Vilma estava feliz mesmo com tudo o que tinha acontecido no seu bairro. Então, me esforcei bastante. No outro dia, eu queria entregar tudo arrumado e tentei ajudar ao máximo. Fiquei agradecido por ter participado dessa experiência. Pensei: 'O que levo dessa experiência? Pessoas que passaram tanta dificuldade e eu, que tenho muita coisa, às vezes fico reclamando como se eu não tivesse nada."
Guilherme Salgado - Brasília (Colegial)

"Quando eu falei com o Ramon que eu realmente queria ir, mas estava com medo de falar com minha mãe, ele e a Maria falaram que me ajudariam, mas a iniciativa tinha que ser minha! Eu falei e ela deixou! Nisso eu falei com minhas amigas e elas amaram e falaram que ia ser muito legal (e eu estava morrendo de medo, até porque eu não sou muito sociável), mas desde o primeiro dia a Mafe, o Bernardo, Gabriel… me 'abraçaram' e foi muito legal! Sobre a parte do trabalho, na minha cabeça seria mais intenso porque eu não sabia que a água tinha abaixado, mas quando eu vi aquele monte de roupas, cheirando a mofo e etc, eu pensei 'por que é que essas pessoas querem roupas fedendo?' Mas quando eu realmente olhei para o que estava acontecendo, entendi que as pessoas tinham perdido tudo e foi muito gratificante ver o sorriso da maioria das crianças se divertindo e brincando depois de tudo que elas passaram. Isso fez com que quiséssemos ajudar mais e mais e também me fez ver o quanto eu tenho que ser grata pelo que eu tenho! Não achei que, além de 'sobreviver sozinha', eu iria fazer amigos como eu fiz! Eu nunca pensei que fazer o bem para o próximo me faria tão feliz e ver a dona Vilma e as crianças com toda aquela alegria no olhar também me fez muito mais feliz. A minha fé em Deus só aumentou ao ver que ele preparou tudo para que pudéssemos estar lá!"
Letícia - Belo Horizonte (Colegial)

"Essa viagem foi uma coisa incrível que pude presenciar na minha vida, as melhores férias de todos os tempos. No Sul fiz vários amigos e amigas novos, como nunca imaginei fazer um dia, foi um conjunto de emoções e sentimentos que nunca pensei que iria sentir. Na noite do segundo dia, na hora de dormir, me peguei pensando 'acho que nós somos loucos, cerca de mais ou menos 60 jovens de todo o Brasil, deixando o tempo tão precioso e mais gostoso do ano que são as férias para vir para um lugar onde aconteceu um desastre gigantesco'. Mas havia um tal motivo que nos despertou um fogo, vontade, sentimento, o desejo de presenciar, ajudar e estar vivendo e olhando com os próprio olhos o que aconteceu no Rio Grande do Sul. A partir desta incrível e inesquecível viagem, vi e percebi como é tão importante o Movimento nas nossas vidas e, principalmente, a presença de Cristo."
Thiago - Belo Horizonte (Colegial)

"A experiência mais marcante que eu encontrei, foi ouvir o relato da moça que cuidava da paróquia, onde eu fui ajudar a limpar. Ela relatava como tinha sido durante as chuvas. Algo que me marcou foi ver a destruição e o estado em que ficou aquela paróquia. Ao ajudar, consegui observar a casa de Deus destruída. Um local onde se ia para se confortar e adorar, mas agora eles não tinham mais onde fazer isso. Tudo estava desordenado. Outra coisa que me intrigou, foi ver pessoas de São Paulo e Minas Gerais trabalharem, já que eu pensava que eram tudo burgueses, e não ajudariam. Só que eu me esqueci: se eles estão lá é porque queriam ajudar. Durante minha estadia em Porto Alegre, e também ao ajudar a paróquia, eu pensava naquele local destruído. Não queria descansar, eu tinha sede de ajudar. Queria aproveitar e ajudar. Porém, eu me esquecia disto: 'Não consigo fazer tudo. Sou somente um. Para mim, aceitar ajuda é como me esfaquear. Então, precisei abrir mão do meu orgulho. Apesar de em alguns momentos eu me estressar e querer matar algumas pessoas, vinha um lapso de racionalidade, e percebia que isso era loucura, já que nem todos são iguais a mim."
Guilherme Esteves - Brasília (Colegial)

"Essa foi minha primeira vez nas férias e o que mais me marcou foi quando todos nós do grupo B saímos para limpar uma paróquia enorme e uma senhora de lá foi dar um testemunho para nós. Ela estava contando que, logo após o alagamento, quando a água abaixou, ela deixou sua própria casa toda suja de barro para limpar sua paróquia. Ela dizia que aquela paróquia era a sua segunda casa, e ela tinha a obrigação dentro dela de cuidar e proteger aquele lugar. Quando nós estávamos limpando, ela sempre estava com sorriso no rosto e agradecendo, e teve um momento que ela estava chorando de felicidade e agradecendo a Deus por nós prestarmos esse serviço para sua igreja."
Marcos - Belo Horizonte (Colegial)

"Tudo começou com o meu irmão (Thiago), me falando que as férias iriam mudar de lugar, que não seria mais em Brasília, mas passou a ser no Rio Grande do Sul. Admito que não estava com vontade de ir para lá, porque eu não tinha dinheiro para essa viagem. Mas, mesmo assim, comecei a me dedicar para que essa viagem fosse possível. Eu, meus irmãos e algumas outras pessoas do nosso grupo dos colegiais começamos a vender chup-chup e caldos para arrecadar dinheiro. Quando já estava perto da viagem, a minha mãe (Glesia) ajudou com as roupas de frio e os sacos térmicos, enquanto o meu pai (Cláudio) ajudou com as receitas do chup-chup e do caldo de mandioca. Gostei muito da viagem de avião e de ônibus até Porto Alegre. Quando chegamos na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora do Padre Bruno, percebi a beleza da paróquia. Começamos os trabalhos em duas paróquias. Fomos divididos em dois grupos (A e B). Eu fiquei na paróquia São Miguel, onde a água chegou até os dois metros e meio. Comecei a trabalhar na parte da cozinha junto com algumas meninas de São Paulo e Brasília, lavamos as louças e depois fomos lavar o chão da quadra. Conseguimos lavar o chão e jogar com as crianças da paróquia. Nossa rotina foi acordar de manhã, lanchar, fazer as laudes, e depois do trabalho e almoço, voltamos para a igreja. Realizamos todos os dias de noite as nossas missas. Foi muito boa essa viagem, conhecer lugares que eu nunca pensei em conhecer, rever amigos meus de outros estados. Agradeço ao Padre Bruno por nos ter acolhido em sua paróquia."
Phelipe - Belo Horizonte (Colegial)

"As férias dos colegiais deste ano foram um momento de experiências muito importantes na minha vida. A primeira delas, sem dúvida, foi verificar o quanto eu confiava na nossa companhia ao aderir à proposta de fazer as férias em Porto Alegre e não em Brasília, como nós da capital havíamos sugerido. Ali comecei a viver na própria pele o que significa a frase: 'O homem pensa, Deus faz.' Era simplesmente isso, aderir ao que o Senhor estava fazendo e não às minhas ideias. A organização dos detalhes com os meus amigos educadores tornou-se uma experiência de unidade e proximidade muito profundas. O gesto anual que obviamente 'deveríamos organizar sempre' se tornou 'algo extraordinário' acontecendo diante dos meus olhos. Somos educadores de várias partes do país, mas o ponto para o qual estávamos olhando era o mesmo e ali experimentei o que é pertencer a uma companhia guiada ao destino.
Em Porto Alegre meu grupo ficou responsável pela paróquia São Miguel Arcanjo. As tarefas eram limpeza e organização de roupas doadas. Fomos recebidos e acompanhados por dona Vilma: uma paroquiana que deixou os cuidados com a própria casa destruída pela enchente para estar conosco. O que vi no rosto daquela mulher durante os três dias em que estivemos lá, foi uma profunda paz e um amor por nós que somente são possíveis de se explicar se uma pessoa vive o abandono no relacionamento com o Senhor. Eu vi uma constância dessa paz e amor no seu rosto que não mudou nesse tempo que ficamos juntos. Constância e permanecer, essas duas palavras me marcaram, porque são, há muito tempo, meus pedidos a Deus e eu as vi ali vivas, na carne daquela mulher.
Nesta viagem, de repente, enquanto estávamos ali dobrando e separando aquelas toneladas de roupa, foi como se o tempo congelasse e ali, olhando o rosto dos meus amigos trabalhando, obedecendo a realidade eu pensei: 'aqui estão os rostos dos Santos'. Eles têm nomes e estão diante de mim. O Santo era Marcelo, Tânia, padre Ignazio, d. Vilma, a Silvana e todos aqueles meninos que, mais conscientes ou não, respondiam a Cristo dentro daquela atividade que não parecia ter fim porque, quanto mais trabalhávamos, mais nos dávamos conta de que não conseguiríamos vencer o que tínhamos para fazer e, mesmo cansados, continuávamos, não por nossas forças, mas por outra coisa maior do que nós mesmos.
Ao retornarmos para casa nasceu em mim uma pergunta: 'Fui a Porto Alegre para fazer caritativa, e daí? O que isso tem a ver com a minha vida agora?' Dei-me conta de que havia chegado a um ponto de não retorno. Eu não podia mais olhar e viver a realidade da mesma forma que antes dessas férias. 'Eu fui lá para me doar, aderir à realidade, cumprir uma exigência do meu coração, satisfazer a exigência do outro, e daí? E aqui na vida ordinária, o que isso significa?' Todas essas perguntas têm me lançado numa comparação contínua entre o que acontece agora e o que aconteceu naqueles dias. Eu tenho continuado a experimentar as provocações, os acontecimentos, entendendo mais o que é a memória, não um fato do passado, mas algo que me atravessa agora! É como se eu passasse a ter uma inquietude boa, algo muito bom que aconteceu e que eu desejo que sempre aconteça de novo, como nos disse padre Bruno na última noite de testemunhos: 'Eu não quero perder a graça que está passando agora'."
Ana Maria - Brasília (Educadora)