Um dos grupos de voluntários durante a Coleta em Brasília, 2018.

Coleta de Alimentos. Um gesto de liberdade

No sábado, 10 de novembro, foi realizado o Dia Nacional da Coleta de Alimentos no Brasil. Foram arrecadadas mais de 199 toneladas nas 57 cidades participantes. A ação envolveu 281 supermercados de norte a sul do país. Leia alguns depoimentos

Fazia tanto tempo que eu via, mas não enxergava. Tanto tempo em que eu me indignava, mas nada fazia. Precisei viver a dor para entender o que era empatia, que era necessário enxergar e sentir o sofrimento do outro. O processo de autoconhecimento e reconhecimento dos erros é doloroso, porém quando aceitei a descoberta, a recompensa foi maravilhosa. Comecei a me reaproximar da Igreja e começou também, meu processo em busca de voluntariado. Senti uma necessidade muito grande em fazer o bem, em doar também o meu tempo! Como nos esquecemos da importância do tempo e como ele é precioso... Pela primeira vez, participei do Dia Nacional da Coleta de Alimentos. E que experiência incrível! Em algumas horas eu pude ver bondade, solidariedade, empatia, altruísmo, gratidão... E eu que tanto pedi para Deus me mostrar um caminho e tornar uma pessoa melhor, sem saber dos Seus planos fui parar num grupo de voluntários que me acolheu e me encheu de amor e esperança. Em suma, fui ser voluntaria sem esperar receber nada em troca, mas recebi muito e sou muito grata por toda experiência.

Daniele Rodrigues Miranda, Rio de Janeiro (RJ)

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Como responsável da Coleta em Brasília e acompanhando algumas cidades de Minas Gerais e Barreiras, na Bahia, a última semana que antecedeu o gesto exigiu grande empenho, não faltando os desafios.
Sexta-feira, nas vésperas, com o coração cheio de gratidão pelos amigos que fazem a Coleta comigo, todo o meu dia de trabalho foi dominado por uma consciência diferente, com alegria, na espera do gesto, mesmo com tantas solicitações onde eu deveria responder. À noite, eu enviei uma mensagem de WhatsApp para os coordenadores de mercado dizendo: “Caríssimos, fiquem atentos para ver como o Mistério vai nos surpreender amanhã; não sabemos com que rosto ele vai se mostrar para nós”.
E Ele se mostrou de várias maneiras: um mercado de uma das cidades que desistiu um dia antes da Coleta, a chuva que caiu em várias cidades do Brasil, alguns voluntários que faltaram. Em Brasília, eu tenho a graça de girar em todos os mercados no dia da Coleta e encontrar as pessoas, de olhá-las no rosto. Foi impressionante! Em nenhum mercado as pessoas estavam desanimadas ou tristes por conta da chuva, pelo contrário, diziam que no decorrer do dia as pessoas iriam chegar. E chegaram mesmo, pois a arrecadação foi surpreendente.
Um fato marcante foi ver um jovem de 20 anos, um ex-aluno, que normalmente não gosta de trabalhar em dia de sábado, ser voluntário. Em agosto, participamos como voluntários convidados de outro gesto de arrecadação de alimentos, num show, onde as pessoas levam um quilo de alimento para pagar o ingresso mais barato, ele foi conosco, mas no domingo. Na nossa Coleta, ele ficou o dia inteiro no mercado. Eu o perguntei: “Você está gostando, feliz em abordar as pessoas?” e ele, sorrindo: “Sim, muito. mas aqui é diferente daquele outro que participamos em agosto; lá as pessoas eram obrigadas a doar o alimento. Aqui as pessoas precisam colocar o coração dentro da ação”. Eu me comovi e olhando para ele, pensei: aqui é você Jesus!
Quase no final do dia, percebi um erro e precisamos recomeçar a contagem. Alguns amigos que estavam por perto me ajudaram e refizemos tudo juntos. Para mim é fundamental o método e a beleza do gesto da Coleta, que entra nos detalhes. Olhei para estes amigos e dei um abraço, agradecendo-lhes pela disponibilidade e pela companhia.
Fazendo a Coleta, sobretudo acompanhando as pessoas, tenho aprendido a paciência, a esperar o tempo do outro, porque Jesus me espera sempre, toma iniciativa constantemente diante de mim, como nos disse o Carrón nos Exercícios da Fraternidade. A Coleta é um gesto de liberdade, me faz livre e me educa a deixar o outro livre. E isso me faz experimentar o que significa que a Coleta é um gesto educativo, que educa em primeiro lugar a mim.

Ângela Rocha, Brasília (DF)

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