E os alunos não queriam mais ir embora
A partir da experiência de uma aluna “presa” em suas leituras, um professor que levou todos da sala a ficar em silêncio esperando que ele falasse mais. E a importância da Passos e dos livros como instrumentos que comunicam que só geramos se fomos geradosCaros amigos, no dia 12 de dezembro eu estava dando aula, em João Pessoa, no Curso de Equipamentos Biomédicos sobre os problemas emocionais de quem trabalha em hospitais, como ansiedade, psicose de UTI, burn out, etc. Então uma aluna começou a falar de sua experiência existencial. Comentou que gostava de ler livros densos, de autores como Dostoiévski (existencialista), mas também Nietzsche (niilista) e filósofos idealistas, e que depois passava muito tempo “presa” tentando entender o que eles diziam nos livros. Vê-se que são pensadores de inspirações diversas e até antagônicas.
Então falei da importância de ter atenção ao ler livros cuja teoria não tenha um nexo com a realidade. Foi quando citei para ela o livro de Giussani O caminho para a verdade é uma experiência. Assim falei da experiência como um critério para ela verificar a verdade do que lia. Citei também os livros O senso religioso (Giussani) e A beleza desarmada (Carrón), além de Confissões (Santo Agostinho), oportunidade em que falei do caminho de conversão deste. Essa aluna contou uma coisa interessante de sua vida: havia dito ao namorado que ele não esperasse que ela pudesse, por si, fazê-lo feliz, o que o deixou perplexo. Então começou na sala de aula uma conversa sobre os dramas da vida.
Foi quando me lembrei da Revista Passos de dezembro, que trata do niilismo, sobre a perda do gosto de viver, e todos os alunos ficaram muito interessados na conversa. São alunos jovens, em torno de 20 anos de idade. Falei também sobre depressão, da educação equivocada de muitos pais que superprotegem os filhos, despreparando-os para a realidade, bem como do papel do professor que é despertar o interesse dos alunos pela mesma. Falei da importância de um mestre a seguir, de uma autoridade. E não resisti: falei de minha experiência em Comunhão e Libertação. Disse que era feliz, e eles ficaram boquiabertos e disseram que hoje em dia é difícil alguém dizer isso. Informei também que fizera filosofia, quando seminarista, e a tal aluna disse que gostou muito de saber deste meu conhecimento. Falei do que aprendi sobre o médico Enzo Piccinini, sobre um conselho que ele dera dizendo que, quando está acontecendo algo que para nós parece absurdo, aprendamos a oferecê-lo a Deus e a descansar, e não ficar vagando no vazio de nossos pensamentos, pois é isso que o maligno quer, a nossa tristeza.
O resultado é que chegou a hora de terminar a aula e os alunos, em vez de irem para casa, pois era a última aula, continuaram na sala em silêncio, esperando que eu falasse mais. Até que um aluno quebrou o silêncio e disse: «Ninguém vai embora, não? A aula já acabou». Na semana seguinte, por sugestão de minha irmã Lúcia, levei sete Revistas Passos para a sala de aula, e iria sorteá-las e presenteá-los, mas, por um “acaso”, só foram sete alunos. Então todos os presentes receberam a Revista. Também, para minha grata surpresa, a citada aluna já estava buscando comprar o livro O senso religioso. Ela, após começar a ler a Revista, disse: «É maravilhosa. Obrigada. Há um tempo que estou precisando ler algo diferente. E encontrei!» Pediu que eu citasse novamente os livros aludidos, para ela comprar.
Tudo isso que relatei deixou-me maravilhado, senti-me não apenas professor, mas como um pai para aqueles alunos, gerei porque sou gerado. É a experiência de paternidade que aprendemos em Comunhão e Libertação. Foi um acontecimento: inesperado e imprevisível. Estamos de férias agora, mas a semente foi lançada!
Joaquim, João Pessoa (PB)