Foto de Kika Antunes

Amapá. «Ele está presente e me dá segurança»

A partir da provocação de Pe. Ignazio e dos textos de Carrón, a passagem do medo e da falta para a certeza de «que tudo isso vai passar, mas a presença d’Ele não passará». A carta de Socorro

Participo do Movimento há dois anos aqui em Santana, no Amapá. Ao ler e refletir sobre os textos de Pe. Julián Carrón eu me vejo em alguns dos testemunhos, e as respostas dele me tocam profundamente e têm me ajudado muito neste período.
Sou uma pessoa que tem uma vida muito ativa tanto no trabalho quanto nas atividades comunitárias e paroquiais. Esse vírus me paralisou por uns dias, quando me vi impossibilitada de sair de casa para as visitas às famílias, a Missa, as Laudes, as atividades corriqueiras do dia a dia. Isso me fez pensar no quanto sou frágil e dependente de “Alguém”.

Na carta de Pe. Carrón do dia 12 de março ele fez o alerta sobre a pandemia, e Pe. Ignazio nos reuniu para lermos a carta e para dizer que as atividades estariam suspensas por tempo indeterminado. Eu confesso que não assimilei de imediato o perigo invisível que se aproximava, a tempestade que é esse vírus. A carta-testemunho da Doutora me impactou, me vi ali naquele ambiente... chorei!

E vem a pergunta de Pe. Carrón: «O que nos arranca do nada?» E eu me fiz essa pergunta por inúmeras vezes: o que me arranca do nada? Na homilia do Papa Francisco no dia 27 de março, três frases me estremeceram: «Silêncio ensurdecedor», «Vazio desolador» e «Uma tempestade inesperada e furibunda». Fui aos poucos me dando conta da minha vulnerabilidade e da dos outros também. O mundo inteiro estava vulnerável. Mas logo voltei à razão quando ele me fez entender que Jesus está presente, é real no meio de nós!

Os dias foram passando, os casos acontecendo. A minha filha do outro lado do mundo em uma gravidez de risco. Trabalho praticamente parado. Na paróquia tudo parado. De repente uma luz: Pe. Ignazio nos reúne para iniciarmos um terço on-line e no primeiro dia me disseram para cantar o canto final: Miraculosa. Eu não canto nada, mas cantei. Cantei com o coração e já no outro dia me veio a ideia de que após a oração das Laudes eu iria cantar e enviar nos grupos da paróquia, da comunidade, da família... Uma audácia sem tamanho! E iria cantar todos os dias até que pudesse voltar às minhas atividades. Então eu canto e às vezes canto e rezo. Algumas pessoas me ligam, mandam mensagens agradecendo.

De alguma forma, estou indo ao encontro das pessoas e elas estão vindo ao meu encontro. Passei a me sentir útil, sei que posso chegar até alguém que nestes dias está isolado ou muito sozinho. E qual foi a minha alegria quando duas pessoas relataram, em seus testemunhos na catequese paroquial que Pe. Ignazio faz às terças-feiras, que o meu gesto as tinha ajudado de alguma forma, e esse gesto simples também passou a tocar o meu esposo, que todos os dias quer ouvir o que eu cantei e eu tenho a parceria dos passarinhos que, ao me ouvirem cantar, cantam comigo também. Já disse, não sei cantar, mas faço isso com o coração e pensando nas pessoas, isso me traz um alento, um vigor.

E a pergunta volta à tona: «O que me arranca do nada?» Lembro-me dos retiros, das férias, da Escola de Comunidade, da caritativa, das crianças... de tudo aquilo que me move como pessoa, como cristã. Sinto muita falta da Eucaristia, do abraço dos amigos, dos encontros... Mas não tenho medo. Tenho esperança! Meu neto nasceu e precisou passar por uma cirurgia no segundo dia de vida e outra no segundo mês. Quando os pais estão perto e falam com ele, ele sempre sorri, sente a presença dos pais, e assim é comigo. Eu não tenho medo, sinto a presença de Jesus, Ele é presente e me dá segurança. Penso então que tudo isso vai passar, mas a presença d’Ele não passará.

No texto do dia 12 de maio, Pe. Carrón disse algo muito enriquecedor: «Se ficarem olhando a vida da janela, aí terão sempre alguma queixa a fazer. Implique-se!» E lembrou dos desafios de Jesus a seus Discípulos: (cf. Jo 6, 66-67) e a resposta de Pedro (cf. Jo 6, 68).

«O que me arranca do nada?»
A certeza que Ele está presente.
Os desafios do dia a dia.
A amizade.
A minha coragem de cantar, mesmo sendo desafinada.
Olhar e contemplar todos os dias a beleza da criação.
A esperança de que meu neto seja abençoado com a vida.
Cooperar com o lanche que a paróquia serve aos médicos e enfermeiros.
A Companhia!
E por fim agradeço a esse “Algo” que me ama, ao Pe. Julián Carrón e ao Pe. Ignazio por me ajudarem a refletir e buscar respostas para as perguntas da minha vida.

Socorro, Santana (AP)