Pe. Ignazio, construtor de relacionamentos
Após anos no Amapá, a missão do padre italiano o leva agora para São Paulo. Em sua despedida com os amigos da comunidade, a serenidade de um "sim" cheio de significado, que invade a vida de todosCompartilho com vocês os dias de convivência com nosso amigo Padre Ignazio em Santana (AP), antes da partida dele para assumir o novo trabalho na Diocese de Santo Amaro em São Paulo. Quem o conhece sabe que ele é uma daquelas pessoas que quando está perto não deixa ninguém tranquilo diante da vida cotidiana. Em tudo o que faz, sempre nos chama a atenção para estarmos consciente de que tudo é para glória humana de Cristo; e não importa em qual realidade estamos imersos.
Durante esses dias, muitas pessoas que ele encontrou e com quem fez belíssimos relacionamentos, durante os cinco anos em que esteve trabalhando como pároco da Igreja Nossa Senhora de Fátima em Santana, o saudavam e relatavam a tristeza de saber da partida dele para outro estado. Havia, nessas despedias, um misto de gratidão e recordações. Sobretudo por causa do último ano de 2020, ano em que nos abateu a pandemia e meu amigo completava 25 anos de padre.
Ele, que tinha grandes projetos de celebrações na Terra Santa e no Vaticano, teve de aprofundar e viver o sacerdócio para acompanhar as vítimas da pandemia do novo coronavírus em visitas às famílias e ao hospital de nossa cidade. Por essa razão, meu amigo celebrou, por causa do lockdown, a missa de 25º aniversário de sacerdócio sozinho na paróquia. Por isso, em uma das vezes que estive presente nos encontros de despedidas, uma amiga mais próxima me perguntou por que eu não expressava a mesma tristeza que os outros; estava, aliás, sereno com a partida de nosso grande amigo. Parecia em mim que reinava uma distração, uma alienação da consciência de tudo que estava acontecendo.
Porém, com a pergunta dela, vi que não era distração ou alienação, mas estava experimentando uma outra coisa. Ao longo de mais de vinte anos de amizade, essa é a terceira vez que vejo o “sim” de meu amigo Ignazio, cheio de significado, invadir as nossas vidas com uma gratuidade e disponibilidade a Cristo por conta do novo trabalho. Dentro desse “sim” sempre me chamou a atenção o emergir de uma educação e de uma experiência. A educação e a experiência que recebemos do carisma de Padre Giussani e muitas vezes revigoradas nos chamados de atenção dados por Padre Carrón.
Em uma dessas despedidas, o representante de uma comunidade agradeceu dizendo que Ignazio foi padre construtor de relacionamentos com as pessoas, mais que empenhado em construir estruturas ou templos. Em outra, durante a reunião semanal que fazíamos com as mães, esposas e algumas pessoas que fizeram a experiência do cárcere, um homem que passou quase vinte anos encarcerado contou como os encontros com Padre Ignazio e os outros modificou a forma dele viver a sua trajetória de recuperação longe das drogas, do cárcere e do crime, pois reacendeu nele o desejo de estar mais perto de Cristo, principalmente agora que se tornava pai novamente.
Por conta de tudo isso, a partida de nosso amigo não nos deixará órfãos, mas sim conscientes da paternidade dele em nos educar a viver o carisma de Padre Giussani, manter o olhar atento para interceptar Cristo dentro das coisas que nos acontecem e, mesmo com as nossas fragilidades, desejar seguir essa febre de vida que a convivência com ele sempre nos convidou e nos convida a viver.
Júnior, Santana (Amapá)