Campo de papoulas em Argenteuil, de Claude Monet.

Brasília. Um olhar de positividade

Um menino cego, fechado em casa, que poderia viver a pandemia esperando a vida passar, revela-se um exemplo vivo de “histórias de otimismo e superação”. Com seu canal no YouTube e muitas outras atividades, olha a realidade como estrada

Trabalho como professora em uma escola pública de Taguatinga, região administrativa de Brasília. No mês de junho foi realizado na escola o projeto “Covid-19: histórias de otimismo e superação”. Os estudantes deveriam pesquisar e a apresentar histórias de otimismo e superação pós-covid.

O estudante Luiz Eduardo, do 9º ano do Ensino Fundamental, foi a própria história de otimismo e superação diante do contexto da pandemia que assolou o mundo.
Jovem, interativo, comunicativo e cego, se viu preso em casa pelos protocolos de segurança, por ser transplantado renal e apresentar baixa imunidade. Luiz Eduardo poderia ter se lançado à espera de dias melhores, contemplado as distrações, a desesperança, o ceticismo, a fuga de si mesmo, etc… Poderia se revestir de um mero expectador, esperar a vida passar e a rotina se estabelecer.

Eis que o jovem surpreendeu a todos, seguiu o anelo do mar, fez sua vida repleta de significados e arriscou-se: fez novos amigos cegos, atendendo os desejos de interação social do seu coração. Buscou mais conhecimentos sobre a tecnologia para pessoas com deficiência visual, alcançando mais independência. Criou um canal no YouTube (O olhar de um cego) no qual fala sobre futebol. Fez um treinamento extensivo para ser jornalista. Participou de um edital da Secretaria de Cultura no qual recebeu até cachê, marcando como gratificante tal experiência. Joga xadrez on-line e ainda participa das aulas no ensino remoto. Para ele a pandemia não foi de todo ruim. Ele conseguiu vislumbrar e viver a positividade em sua realidade. Outro ponto marcante que observei foi a total dedicação de Janaína, a mãe do Luiz Eduardo, a companhia, que abraça e auxilia em todas suas batalhas e conquistas.

Ao refletir sobre as palavras do Papa Francisco: «Pior do que essa crise, só o drama de desperdiçá-la», me deparo com esse exemplo de protagonismo, de afeição por si mesmo, com esse olhar para a realidade como estrada para o conhecimento, etc. Este estudante vivenciou os acontecimentos em sua vida como uma estrada rumo à positividade. Olhou para a sua realidade, abraçou-a e não desperdiçou nenhum detalhe ou oportunidade.

Impactada por tamanha lição, questionei a ele se há esperança. E ele sem pestanejar respondeu que sim.
Fiquei impactada por esse exemplo, me sinto agraciada por Cristo, que me permitiu conhecer esse estudante, no exato momento de leitura das sábias palavras de Julián Carrón e Luigi Giussani nas Escolas de Comunidade.

Alice, Brasília (DF)