(Foto: Jürgen Klein / Pixabay)

Exercícios Espirituais. A âncora da esperança

Questionando o sentido de participar dos Exercícios da Fraternidade, Elton resolveu arriscar e se deixou provocar pelo que ouviu nas pregações. «A imagem da esperança como uma âncora ainda está gravada em minha mente»

Vou para os Exercícios neste ano de 2024? É a pergunta que me faço. Acho que não tem jeito, não faz sentido não ir. Sentido? Essa é uma das questões mais em jogo ao longo da minha existência. E o que um fim de semana ouvindo pregações pode alterar nesse jogo do sentido? Tudo ou nada? Um forró diz: «Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada». Mas o desejo por tudo é maior que o nada.

Como costuma acontecer nesses momentos, muitas adversidades aparecem, nenhuma incontornável, mas a dúvida retorna. Vou! Chego em Salvador uns dias antes, saindo de Vitória da Conquista, minha cidade natal. Vou à praia no dia seguinte – como todo sertanejo, quero ver o mar de perto logo. Entro no mar e em 15 minutos saio com o pé machucado, nada grave, mas será que foi um erro eu ter vindo? Chega o dia dos Exercícios, tenho duas preocupações: não me atrapalhar nem atrapalhar a carona de Valter, e não mancar na frente das pessoas para não gerar preocupações desnecessárias. A vida é curiosa, os aspectos banais, muitas vezes, dominam os meus (nossos?) dias.

Encontrar pessoas que não via há muito tempo, conhecer novas… mas e o sentido?

Primeira pregação: ouço este trecho dito por Dom Giovanni Paccosi: «O autor da Carta aos Hebreus não usa a imagem da rocha, e sim a da âncora, pois a esperança não elimina as tempestades, mas estabelece um ponto firme, que não cede. Não obstante possamos ser sacudidos pelas ondas da vida, não somos levados embora. Disse o Papa numa homilia em Santa Marta de 2013: “A esperança era uma âncora, uma âncora fixada na margem do além. Nossa vida é como caminhar na corda em direção a essa âncora”. E acrescentou: “Mas onde é que nós estamos ancorados?” Perguntemo-nos! Em que é que se baseia nossa esperança? Como a âncora puxa e mantém firme o navio no meio de um mar tempestuoso, assim – disse Péguy – a pequena esperança puxa a fé e a caridade. É pequena, mas é ela que faz caminhar».

A imagem da esperança como uma âncora ainda está gravada em minha mente, como uma espécie de transcrição dessa virtude teologal. É pequena, é verdade, mas nos faz caminhar. E como uma virtude que nos é dada por Deus, ir até os Exercícios deste ano não poderia ser de outro modo... fui puxado. Como disse ainda Dom Paccosi logo adiante: «A esperança está ancorada no além e nos puxa para o destino, para a plenitude até a qual não conseguiríamos chegar sozinhos».

O sentido não foi conquistado, mas hiperdimensionado. Porém, se a esperança nos puxa, também nos impulsiona. E como Giussani já nos dizia que a «verdadeira natureza da amizade é viver livremente juntos para o destino», resolvo me juntar aos amigos da fraternidade São Miguel dos amigos de Salvador.

«Mas, Elton, e a distância? Isso não vai dar certo?» A esperança puxa e impulsiona, e Maria é a «segurança da nossa esperança».

Elton, Vitória da Conquista (BA)