O fato de serem estas estórias todas fictícias e ambientadas preferencialmente no sertão mineiro não as impede de mergulhar a fundo na realidade humana mais universal. E Guimarães Rosa carrega consigo os leitores, conduzindo-os na aventura de captar a novidade onde aparentemente havia apenas mesmice.
Um dos fios que conferem unidade à obra é justamente o tema de aprender a olhar a realidade “com olhos de ver”, ou seja, desvelando seus sentidos recônditos, que passam despercebidos para quem anda distraído. Daí também que os protagonistas de diversas das estórias reunidas sejam crianças, que simbolizam a capacidade de espanto e de maravilha muitas vezes já perdida pelo adulto. O mesmo menino é, por exemplo, personagem central do primeiro e do último conto do livro: ainda que diante da dor, da perda e da vertiginosa consciência do caráter periclitante de tudo, o garoto não abandona a abertura diante do novo.

* A curadoria deste bimestre é do Professor Raúl Cesar Gouveia Fernandes é doutor em Literatura Portuguesa pela USP e professor do Centro Universitário FEI (SP).