Francisco Catão

Francisco Catão: uma vida dedicada ao encontro com Cristo

Faleceu o teólogo Francisco Catão, um grande amigo do Movimento e admirador de Dom Giussani. Em 2018, participou da apresentação da biografia do fundador de CL em São Paulo. Aqui, seu obituário
Francisco Borba Ribeiro Neto

Nesse 7 de maio, faleceu Francisco Catão, na véspera de completar 93 anos, um dos maiores nomes da teologia brasileira de sua geração. Um grande conhecedor de São Tomás de Aquino, sobre o qual defendeu sua tese de doutorado na Universidade de Strasbourg.

Seu pensamento era profundo e perspicaz. Quem convivia com ele se acostumava a ser surpreendido com ideias que pareciam heterodoxas e discutíveis, mas que – depois de explicadas e contextualizadas – se mostravam como a mais pura e sábia aplicação da ortodoxia católica a resolução de questões polêmicas.

Fez sua pós-graduação, na Europa, no período do Concílio Vaticano II. Com isso, teve a oportunidade de conviver com os grandes peritos teológicos e com as discussões da época. Entre seus amigos próximos da época, se sobressaem os nomes de Yves Congar, Joseph Ratzinger e Hans Küng.

Citava com facilidade trechos dos documentos conciliares, aludindo aos debates que os cercavam e mostrando as soluções encontradas para as polêmicas da época.

Participou dos círculos de pensadores que desenvolveram a Teologia da Libertação, em suas origens. Nunca deixou de reconhecer seu valor histórico e social, mas, com o tempo, assumiu uma postura crítica a alguns de seus aspectos.

Num período mais recente, teve um intenso diálogo com movimentos eclesiais e novas comunidades. Sabia dialogar com eles, respeitando e valorizando seus carismas, ao mesmo tempo que os enriquecia com sua reflexão teológica.

Em 2018, participou de uma mesa-redonda em São Paulo, com o jornalista Alberto Savorana, para a apresentação da versão em português do livro Luigi Giussani: A sua vida. Catão traçou, na época, um amplo painel do desenvolvimento do pensamento teológico no século XX, dentro do qual situou a contribuição de Dom Giussani. Explicou como o fundador de Comunhão e Libertação havia percebido os limites de uma vida eclesial excessivamente preocupada com os valores cristãos, mas que havia perdido o sentido da experiência do próprio encontro com Cristo. Catão havia estudado o pensamento de Giussani e considerava que o valor dado por ele à experiência concreta era o grande diferencial de seu pensamento.

Sem dúvida, a unidade de seu pensamento e de sua vida residiam em sua adesão radical a Cristo, que permaneceu nas idas e vindas, voltas e reviravoltas de sua existência. Como disse em um depoimento ao filósofo Juvenal Savian: «De uma coisa não tenho dúvida: o que dá unidade à minha história é Deus! Em todos os momentos de minha vida busquei a Deus! E, se há algo a dizer, esse algo é Deus!»